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Ficção Científica com Robôs

Ficção Científica com Robôs

O Caldo Primordial para a Criação dos Robôs na Ficção Científica

Mary ShelleyFrankenstein, ou, O Prometeu Moderno (1818)

Frankenstein - Mary Shelley
Frankenstein

Algumas obras são tão influentes que se torna difícil falar sobre outras sem constantemente citá-las. O Prometeu Moderno de Mary Shelley, mais conhecido como Frankenstein é uma dessas obras. Responsável por “dar o pontapé inicial” na ficção científica como um gênero, e definindo a “maternidade” da ficção científica sendo de Shelley, Frankenstein introduz pela primeira vez o protagonismo científico como força motriz de uma história, através da inclusão do “galvanismo” como elemento narrativo.

Caso tenha interesse em saber mais e começar a ler ficção científica mas não sabe por onde começar, veja nosso “Guia Definitivo de Como Começar a Ler Ficção Científica”. (EM CONSTRUÇÃO)

Como o próprio título da obra informa, ou pelo menos o título menos conhecido, existe uma relação direta com o Mito de Prometeu que colocaria uma bagagem que os robôs continuariam a carregar séculos depois.

Mito de Prometeu

Prometheus de Boris Vallejo

Prometeu acorrentado.
Prometheus – Arte de Boris Vallejo

Prometeu foi um Titã que roubou o dos Deuses o segredo do fogo, e foi castigado pela divindade suprema, Zeus. O Mito de Prometeu pode se relacionar levemente com religiões judaico-cristãs durante a passagem de “Adão e Eva” onde era consome o “fruto proibido” levando a expulsão do paraíso. Ambos falam sobre a crença da existência de “conhecimentos proibidos”, exclusividade de deuses e demônios.

Leituras podem ser feitas, mostrando o eterno conflito entre a ciência e o credo, onde as religiões tendem a “deixar a humanidade no escuro” enquanto a ciência tende a “trazer a luz para a escuridão”. Com esta visão, a ciência estaria tirando o conhecimento exclusivo de deuses e demônios e colocando-os ao alcance dos homens. Se o “homem foi ciado a imagem e semelhança de Deus”, não teria o homem o direito dos mesmos conhecimentos e poderes?

Também podem ser traçadas relações entre o Mito de Prometeu relação com a história hebraica do Golem.

Golem Hebraico

Golem
Em hebraico a palavra “golem” significa “substância informe”.

Na História do Golem o Rabino Loew cria um homem artificial de barro, mesma matéria prima que Deus criou Adão. O rabino da vida a criatura através de um encantamento envolvendo o nome sagrado de Deus e, apesar de suas boas intenções, onde o Golem seria um guarda-costas e protetor dos Judeus de Praga de seus inimigos, o ainda Golem era uma criatura sem alma por ter sido criada por um homem e não por Deus; o que o torna uma criatura maligna e uma ameaça a todos que ele deveria proteger.

Complexo de Frankenstein

Tendo como base estes três elementos, carrega-se uma cultura literária de sempre mostrar as criaturas advindas das mãos do homem sempre se rebelarem, criando o que viria a ser chamado de “Complexo de Frankenstein”. O termo foi cunhado para representar o “Medo do Homem Mecânico” . O conceito, obviamente referindo-se a obra seminal de Shelley, torna-se também duradouro, tal qual a obra original, ainda mostrando sua influência em obras modernas. 

Algumas vezes traduzido como “síndrome de Frankenstein”,  o Complexo de Frankenstein é o medo de que uma criação feita por um ser humano se volte contra seu criador e destrua a humanidade. este “medo” pode ser visto em diversas obras e até mesmo em nossa “vida real” onde pessoas mantém uma aversão a tecnologias, fortalecidas pelas revoluções industriais pelas quais já passamos. Durante todas elas sempre existiu um medo de “perder espaço de mercado de trabalho para as máquinas”.

Pode-se traçar paralelos entre Complexo de Frankenstein e o “Vale da Estranheza” [Uncanny Valley], que é uma relação hipotética entre o grau de semelhança de um objeto com um ser humano e a resposta emocional a esse objeto. O conceito sugere que objetos humanoides que se parecem imperfeitamente com seres humanos reais provocam sentimentos estranhos ou estranhamente familiares de estranheza e repulsa nos observadores. Logo não teríamos problemas nenhum com um robô que não tem qualquer semelhança física com um ser humano, nem com um que seja virtualmente idêntico a nós, mas existiria um extremos desconforto na presença daqueles que se parecem o suficiente mas não o bastante para serem perfeitos.

Mas é claro que nem todas as obras estavam presas as correntes da Síndrome de Frankenstein, e uma que escapou foi a obra francesa que tem em seu título o justamente o nome de uma das humanas que se agarrou ao conhecimento no primeiro dos livros bíblicos.

A Eva Futura [L’Ève Future] – Villiers de I’sle Adam (1886)

Se nossos deuses e esperanças não passam de fenômenos científicos, deve-se dizer que nosso amor também é científico“.

A Eva Futura [L’Ève Future] – Villiers de I’sle Adam (1886)
A Eva Futura [L'Ève Future] - Villiers de I’sle Adam (1886)
A Eva Futura

A Eva Futura  nos conta a história da criação de uma “mulher artificial”, movida a eletricidade, por um Thomas Edison fictício. Esta “mulher artificial” é chamada de Hadaly (“ideal” em persa), torna-se a cópia perfeita da namorada do protagonista, sem apresentar nenhuma das ameaças que o Monstro de Frankenstein ou o Golem traziam.

O conto ajudou a popularizar o termo “andróide” (Androïde, em francês, o personagem se chama “Andréide“). Hadaly, com seu esqueleto metálico revestido por carne e peles artificiais, é uma das precursoras dos Robôs Asimovianos enquanto influenciava também a criação de Maria, em 1926, no filme de Fritz Lang, Metrópolis.

Embora Maria não seja “a primeira Robô do Cinema“, tendo este posto ficado com “The Dummy” interpretado por Ben Turpin em “A Clever Dummy“, ela é considerada “a primeira Robô importante do Cinema“.

Maria anda em Metropolis de Friz Lang. Considerada a "primeira robô do cinema"
Maria em Metropolis de Fritz Lang

R.U.R. – Rossum’s Universal Robots (1920)

Robô
Robô” em Tcheco significa “trabalho forçado

A palavra “robô” foi usada pelo teatrólogo checo Karel Čapek na peça R.U.R.

Na peça, “homens artificiais” são criados para realizarem tarefas monótonas e repetitivas ao lugar dos seres humanos. Os robôs se revoltam e exterminam a humanidade.

Isaac Asimov (1920)

Isaac Asimov sorrindo com a costeleta mais hard-core da Ficção Científica!
Isaac Asimov e sua incrível costeleta!

No mesmo ano em que a palavra robô é utilizada para representar seres artificiais, nasce Isaac Asimov (2 de Janeiro de 19206 de Abril de 1992), professor de bioquímica e prolífico escritor de ficção científica, que dedicou grande para da sua vida aos robôs de suas obras se tornando um dos “3 Grandes da Ficção Científica“, ao lado de Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein.

Aos 20 anos Asimov se vê cansado de praticamente só encontrar histórias onde os robôs são seres malignos, sempre se revoltando contra seus criadores, e imaginou seus autômatos com cérebros positrônicos que carregam em sua programação as Três leis da Robótica.

A obra de Asimov é extensíssima, com mais de 500 livros escritos e editados, e tendo ganho uma infinidade de prêmios, dentre os quais estão o Prêmio Hugo de “Melhor Série de Todos os Tempo” por sua série Fundação em 1966, uma dúzia de prêmios anuais e 14 Doutorados Honorários de diversas universidades.

Três Leis da Robótica

As Três Leis da Robótica formam a programação básica dos robôs e qualquer tentativa de quebrá-las provoca o colapso total do cérebro robótico. As três diretivas que Asimov fez implantarem-se nos “cérebros positrônicos” dos robôs em seus livros são:

  • 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
  • 2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
  • 3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

Mais tarde Asimov acrescentou a “Lei Zero”:

  • Lei Zero”, acima de todas as outras: um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal.

Obras influenciadas por Asimov

Não demorou muito para que outras obras começassem a compartilhar os ideais de Asimov e, em 1958,  a MGM lança um dos primeiros grandes filmes de ficção científica, com orçamento grande e uma mega produção: 

Planeta Proibido [Forbidden Planet] (1958)

O Planeta Proibido [Forbidden Planet] (1958)

Em Planeta Proibido, temos o primeiro Robô inspirado nas leis asimovianas da robótica: Robbie, que carrega em seu nome uma referência ao primeiro conto de Asimov sobre o tema. O conto pode ser encontrado na coletânea “Eu, Robô”.

Devido ao sucesso de Planeta Proibido, duas das maiores séries de ficção científica da história são criadas: Jornada nas Estrelas [Star Trek] e Perdidos no Espaço [Lost in Space]. Tendo esta influência da “Família Robinson Suíssa” e aquela com influências dos Westerns como “Wagon Train”, “Horatio Hornblower” e “As Viagens de Gulliver”.

Perdidos no Espaço (1965)

O Robô de Perdidos no Espaço,  o M3-B9 G.U.N.T.E.R., começa como um dos robôs malignos amarrado a “síndrome Frankensteiniana”, mas logo abandona estas raízes e se torna um aliado e protetor de Will Robinson, sempre o avisando a proximidade de qualquer risco com sua icônica frase: “Perigo, Will Robinson!

2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)

Mas nem tudo são flores no universo dos Robôs, e nosso medo perante o enfrentamento com nossas criações se mantém e enquanto Robbie trazia proteção e alegria nas telinhas, Hal 9000 nos trazia terror e perigo naquele que se tornaria o “Maior Filme de Ficção Científica de Todos os Tempos”.

O Filme foi baseado em um conto de Arthur C. Clarke, chamado A Sentinela [The Sentinel] de 1951, e durante os tratamentos iniciais do roteiro para o filme, Clarke, que era amigo de Asimov, gostaria de tripular a nave Discovery com um robô chamado Hugo (talvez uma referência a Hugo Gernsback?), que seria obediente as 3 leis da robótica. Mas Kubrick veta esta ideia e Hall só viria a adotar as leis de Asimov em sua continuação, “2010 – Odisseia II”,  nos presenteando assim com um dos maiores “vilões” da Ficção Científica cinematográfica.

Falando em “maiores vilões da Ficção Científica”, e já que nenhuma lista sci fi pode ficar sem Guerra Nas Estrelas [Star Wars]:

Guerra nas Estrelas [Star Wars] (1977)

R2D2 e C3PO fogem dos tiros dos Stormtroopers no começo de Guerra nas Estrelas.
C3PO e R2D2 em Guerra nas Estrelas [Star Wars] (1977)

É justamente o filme que nos apresenta o “Maior Vilão da Ficção Científica”, Darth Vader, que volta a nos trazer dois robôs, ops Droids, aparentemente moldados pelas leis de Asimov, R2D2 e C3PO, tendo este inclusive os grandes olhos luminosos e bebendo de influências estéticas da Maria de Fritz Lang.

Em que pé estamos?

Hoje temos um cenário que mescla as duas possibilidades com obras como O Exterminador do Futuro, Blade Runner e Battlestar Galactica que nos mostram nossas criações robóticas se voltando contra nós, enquanto temos cada vez menos obras onde os robôs são nossos aliados e companheiros. Até mesmo Jornada nas Estrelas, que sempre se esforçou para nos mostrar um “futuro melhor”, em suas duas encarnações mais recentes. Star Trek: Discovery e Star Trek: Picard, nos mostram um futuro com máquinas se revoltando contra seus criadores.

Certamente está na hora de alguma obra voltar-se para a obra de Asimov e nos surpreender com robôs companheiros, que vivem lado a lado com seus criadores. 

Quais são melhores robôs da Ficção Científica todos os tempos?

Robôs, Androides, Sintéticos, não importa o nome, você ficou interessado e quer saber mais sobre os grandes Robôs da Ficção Científica! “Bons, Maus ou algo um pouco de cada”. O fato é que estas criaturas artificiais, através de sua incapacidade de possuir sentimentos nos fazem sentir e entender mais a respeito de nós mesmos, funcionando como um espelho para nosso próprio cerne nos mostrando seu lugar perante nós, como nosso perante algum possível criador.

Desajeitados ou habilidosos, com pensamentos dos mais simples aos mais complexos e dotados da capacidade para os maiores altruísmos ou grandes ator de egoísmo. São eles:

  • R. Daneel Olivaw (Cavernas de Aço – Livro – Isaac Asimov, 1954)
  • R2D2 e C3PO (Star Wars, George Lucas, 1977)
  • T-800 (Terminator, James Cameron, 1984)
  • Johnny 5 (Short Circuit)
  • Hal 9000 (2001, A Space Odyssey, Stanley Kubrick, 1968)
  • Tenente Comandante Data (Jornada nas Estrelas – A Nova Geração, 1987)
  • Robby, o Robô (O Planeta Proibido [Forbidden Planet, 1956])
  • Maria (Metropolis, 1927)
  • Marvin, O Robô Paranóico (O Guia do Mochileiro das Galáxias)
  • Bender (Futurama)
  • Roy, Pris e Rachael (Do Androids Dream of Electric Sheep? Philip K. Dick, 1968)

RELACIONADO:
Saiba mais sobre Os Maiores Robôs da Ficção Científica!
(EM CONSTRUÇÃO)

Onde encontrar mais Robôs?

Livros com Robôs

Está louco para entrar de cabeça e devorar alguns dos maiores livros Sci Fi sobre robôs? Segue uma lista rápida dos principais livros que você precisa ler para começar a entender este subgênero da Ficção Científica!

  • Eu, Robô – Isaac Asimov
  • Cavernas de Aço – Isaac Asimov
  • Blade Runner: Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? – Philip K. Dick
  • 2001: Uma Odisséia no Espaço – Arthur C. Clarke

Para quem lê em Inglês: 

  • Cyborg – Martin Caidin (1972)
  • Excession – Ian M. Banks (1996)
  • Mockingbird – Walter Tevis (1980)
  • R.U.R – Rossun’s Universal Robots – Karel Čapek (1920)
  • Robopocalypse – Daniel H. Wilson (2011)
  • Soul of a Robot – Barrington j. Bayley (1974)
  • The Automatic Detective – A. Lee Martinez (2008)

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Newton Uzeda

Newton Uzeda, o Terceiro de seu Nome, Viajante de muitos Mundos, Sonhador de Fantasia, Leitor de Sci-fi, o Desafiador da Máquina, o Colecionador de Mundos, o "Último dos Renascentistas", Guardião de Histórias e o Questionador de Autoridades.

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