Porque a Ficção Científica não encanta como antes?
Quando me sento hoje para ler ou assistir a uma ficção científica, ou mesmo uma fantasia, sempre sinto que algo está faltando. Por muito tempo, achei que eu estava ficando velho demais, que talvez fosse hora de partir para obras mais sérias e adultas. Que deveria começar a consumir a tão falada “literatura de verdade”. Mas a pergunta fica: Não estaria eu consumindo uma obra digna do título?
Buscando entender o porque de meu descontentamento, resolvi voltar ao passado. Tanto meu quanto da própria ficção especulativa num geral, sendo ela fantástica ou científica. Eis que o que encontro, não era nada desconhecido para mim, mas pela primeira vez eu consegui olhar com uma nova visão. Uma nova perspectiva.
Para começar, a literatura de ficção científica, é muito mais antiga que a maioria das pessoas tem como verdade. Desde muito cedo nós nos aventuramos por mundos desconhecidos, nos enfiamos em naves marítimas ou espaciais e nos jogamos em oceanos de água ou de estrelas. A muito nós olhamos para o céu noturno e nos perguntamos: “O que tem lá em cima?”. Em nossas viagens, nós sempre nos perguntamos “e se…”. Extrapolamos a realidade que nos cerca para ir “onde nenhum homem jamais esteve” somente para podermos aquietar aquele monstro que reside dentro de nós e só então nos conhecer verdadeiramente.
Hoje, a ficção científica trocou, o desconhecido pelo seguro, as grandes ideias por piadas fáceis, política por politicagem. Os protagonistas de antes, que apanhavam, perdiam e erravam o tempo todo, para somente no final receberem, talvez, a medalha da vitória, hoje são substituídos por personagens que tem tudo de mãos beijadas, que já sabem fazer tudo e são praticamente invencíveis. Como diria Álvaro de Campos, “estou farto de semideuses!”
Voltando a pergunta inicial. Porque a ficção científica não encanta como antes? Não seria o fato dela não ser mais ousada, e não nos fazer pensar? Hoje não saímos mais de um cinema com os amigos, e enquanto comemos uma pizza continuamos discutindo os temas abertos pelo filme. Temas estes que ficarão remoendo em nossa cabeça pelo resto da semana, ou em casos extremos, para o resto de nossas vidas. Hoje, falamos dos efeitos especiais, e como as cenas de luta são incríveis visualmente! Tudo confete e purpurina, pouco samba.
Certa vez disseram que o espectador médio de cinema tem uma idade mental de 12 anos. Seguindo esta linha de raciocínio, como pensa uma criança de 12 anos? Geralmente é uma pessoa sem grande bagagem cultural, pela simples falta de tempo e experiência na vida; uma pessoa imediatista e impaciente, pelo simples fato que por ainda ter uma vida curta, proporcionalmente tudo leva “muito tempo” para acontecer; e é uma pessoa que “sabe tudo” e que “não precisa dos pais” e “que nunca usará X conhecimento na vida!”, como todo pré-adolescente e adolescentes pensam. Este é nosso espectador. OK.
Visando sempre otimizar lucros, como todo negócio economicamente saudável, as produtoras e estúdios querem este público. Como fazer para o público de 12 anos, consumir o seu produto? Moldando o produto para ser consumido pelo público-alvo. Convenhamos, ninguém gosta de se sentir “burro”. Logo, roteiros com temas complexos, que precisem de uma boa bagagem cultural e uma maior capacidade de abstração estão imediatamente fora da jogada.
Lógico que este pensamento pode ser tido como “elitista”, mas vou me colocar na linha de fogo. Quanto eu tinha meus 12 ou 13 anos, eu estava consumindo tudo que era possível de fantasia e ficção científica que caia em minhas mãos. Um belo final de semana, fui até a locadora e conversando com o atendente ele me recomendou um filme. Este filme é hoje tido por muitos críticos e entendidos de cinema, inclusive por mim mesmo não tão entendido assim, como a “Maior Ficção Científica de todos os tempos!”. Obviamente estou falando da magnífica obra de Stanley Kubrick, 2001 – Uma Odisseia no Espaço. O que hoje é para mim uma experiência engrandecedora e uma grande diversão, naquele momento, foi um porre!
Sim, o meu eu pré-adolescente queria ver explosões, cortes rápidos, aventura e não uma saga por toda a história da humanidade e nosso próximo passo evolutivo. Se pegarmos um DeLorean e perguntarmos para o jovenzinho que se tornaria eu o que ele achou de 2001, certamente ele diria: “Uma merda!” O que mudou? Experiência. Eu li, assisti e joguei uma infinidade de ficções científicas de lá pra cá, junto com uma infinidade de fantasias, e livros técnicos e diversos daqueles “livros sérios” que temos que ler para podermos nos dizer cultos; e que de fato, nos faz mais cultos.
Eu tive paciência. Eu enfrentei aquele filme chato, e voltei a ele diversas vezes e aprendi a apreciá-lo, somado a diversos filmes e livros ainda mais complexos e desafiadores. Eu tive o trabalho de me melhorar para poder entender e absorver o que estas obras podem nos oferecer. E ainda hoje, sempre encontro algo que não entendo de primeira, e procuro a cada encontro com o desconhecido, entender o ininteligível.
A ficção científica sempre foi uma literatura renegada, era vendida em revistinhas de polpa de papel, a custo praticamente zero. Enfrentávamos a péssima impressão e até a escrita ruim, visto que muitos dos autores não era escritores e sim cientistas sem pretensões literárias, ou ainda por sugestão do editor. Depois fomos para o cinema e televisão, ainda como renegados. Tínhamos que enfrentar o baixo orçamento e as atuações ruins. Mas porque enfrentávamos? Pelas grandes ideias, pela embasbacação, pelo fascínio e principalmente pelo sentimento de estranheza. Pelo sentimento de presenciar algo pela primeira vez.
Hoje a ficção científica é “main stream”, é pop. Em todo lugar vemos a imagem de uma série X ou Y numa camiseta. Só o que importa é a imagética, não necessariamente o que vem por trás dela. Será que o lugar da ficção é escondido e renegado nas revistinhas pulp e nas péssimas atuações? Hoje temos grandes orçamentos, e péssimas histórias, fama e lugar-comum, agenda política e recordes de bilheteria.
O mercado vai onde existe a demanda. A demanda é o que encontramos hoje nas telas, grandes ou pequenas, nas livrarias ou nas bancas de revistas. Os produtos que encontramos é o que levou a bilheterias bilionárias, e estúdios felizes. Está na hora de nos melhorarmos como público para recebermos melhores obras.
Se você não se sente mais contemplado pelas obras de FC, então procure outras obras. Não classifique tudo como sendo uma merda, porque não é verdade. Tem muita obra das antigas que é uma bosta aventureira colonialista e você não falou uma vírgula a respeito.
Pela sua régua então, A Chegada, Interestelar e Gravidade são uma merda por causa dos efeitos especiais? Faz favor, cara.
E isso aqui: “Os protagonistas de antes, que apanhavam, perdiam e erravam o tempo todo, para somente no final receberem, talvez, a medalha da vitória, hoje são substituídos por personagens que tem tudo de mãos beijadas, que já sabem fazer tudo e são praticamente invencíveis.” Então, pegando uma obra nova e juvenil como exemplo, Katniss Everdeen teve tudo de mão beijada, não se esforçou, fez porra nenhuma nos jogos e na rebelião dos distritos?
Bota a mão na consciência e pensa, mano.
porque só fazem porcarias hoje em dia e no meu tempo ir ao cinema sem saber o que esperar era o melhor, hoje de tanto spoilers, trailers, divulgação irritante que a gente até ja sabe o enredo e como serão os personagens: -mulher, pobre, negra, feminista, -homem, pobre, negro, feminino.