Runaway – Star Trek: Discovery – Short Treks – É bom?
Runaway
Star Trek: Discovery – Short Treks
O que é “Short Treks”?
Short Treks são curtas-metragens episódicos antológicos que contam histórias e personagens relacionados a Star Trek: Discovery, funcionando como uma “série companheira”. Os episódios terão entre 15 e 25 minutos, expandindo o universo desenvolvido na série principal, servindo também para manter o interesse dos espectadores entre as temporadas.
A história de Tilly
Este primeiro episódio, intitulado “Runaway” (algo como “Fugitivo” aqui no Brasil), conta uma história de um final de turno do dia a dia de Sylvia Tilly (Mary Wiseman), que é de longe, uma das personagens mais carismáticas de Discovery. Tilly tem que lidar com suas questões de autoestima enquanto tem uma conversa desconfortável com sua mãe sobre o “Programa de Treinamento para Comando” que quer participar.
Aqui temos elementos clássicos de histórias sobre pais e filhos. Enquanto os pais querem um caminho para seus filhos, os filhos veem outras opções que querem seguir. Até aqui tudo bem, é uma opção de história, mas não sei o quanto ela influi em nossa perspectiva sobre a personagem.
Após, ser criticada pela mãe sobre seu alto consumo de cafeína, Tilly resolve ir até o refeitório da nave para, obviamente, tomar café. Aqui temos uma pequena amostra da ansiedade que ela carrega consigo. Ele “liberta o expresso” de sua responsabilidade de agradá-la, argumentando que não esperará nada de nada mais.
Então ela se encontra com Me Hani Ika Hali Ka Po (Yadira Guevara-Prip), ou apenas Po, para facilitar. Ela se escondeu dentro de um carregamento que foi transportado para a nave no início do episódio. Po está assustada, mais por ela mesma que por Tilly, e inicialmente é agressiva, mas Tilly tem um jeito com pessoas, e acaba trazendo Po para a conversa.
A Relação de Tilly e Po
Tilly reconhece ela mesma em Po, com suas dúvidas e problemas. Ambas não são compreendidas quando falam com os outros, ambas tem grande potencial mas ainda não tem experiência para lidar com o mundo que se abre perante elas.
Esta é uma história sobre crescimento, maturidade e sobre assumir responsabilidades. Uma história de passagem. Da mesma maneira que o planeta de Po está evoluindo, ela deve evoluir também, assumindo seu lugar perante a sociedade de seu planeta. E Tilly deve assumir suas responsabilidades e tomar suas próprias decisões como a jovem adulta que ela é.
As duas encontram amizade e afeição facilmente, porque elas são basicamente a mesma pessoa. Ambas estão sobrepujadas por responsabilidades que não queriam, ou não esperavam, ter. Elas simplesmente tem “vontade de sumir” quando os problemas aparecem gritando na frente delas. Po literalmente some, se tornando invisível sempre que confrontada por Tilly. Habilidade que todo adolescente gostaria de ter. “Você não vai fugir dessa mocinha!”, grita Tilly reconhecendo a própria mãe nela mesma. Um pequeno passo na vida adulta, o primeiro de muitos.
Problemas herdados de Discovery
Não podemos nos esquecer, que Short Treks é uma série derivada de Discovery, sendo produzida basicamente pela mesma equipe, e com isso acaba-se herdando mais que apenas cenários e atores. Runaway herdou um problema sério que Discovery teve desde seu lançamento. Logo de cara, a série foi criticada por não ter “respeito pela continuidade” com o universo já estabelecido. Mudanças estéticas, como o caso dos Klingons, alterações em características de personagens que conhecemos como Harry Mudd ou Sarek, e principalmente, tecnologias que não se encaixam na época que a história se passa. O que antes era a Rede Micelial e o Spore-Drive, agora é o processo de recristalização de Dilitio [Dilthium].
Os Cristais de Dilitio, são parte integrante do universo de Jornada nas Estrelas, desde o começo, embora em “Onde Nenhum Homem Jamais Esteve” e “As Mulheres de Mudd” ainda fossem chamados de “Lithio”[Lithium]. O processo de recristalização, só foi visto pela primeira vez em Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa, que se passa muito depois deste episódio, sendo feito pela primeira vez por Scotty e Spock usando radiação de um porta-aviões nuclear. Se o planeta de Po, Xehea, faz parte da federação como o episódio nos faz entender, porque a tecnologia não estaria disponível para a Federação utilizar?
Mas o episódio é bom?
Como uma historinha, é um episódio divertido. Os diálogos são bem escritos e a interpretação das duas atrizes é bem executada; principalmente Wiseman, que já tem a personagem mais desenvolvida e parece bem confortável na pele de Silvia Tilly. Como estão usando todos os cenários da série principal, os valores de produção são altos, fazendo este curta-metragem parecer muito mais caro que realmente foi.
O problema está na necessidade desta história. Porque ela foi contada? Ela não mudou a maneira que enxergamos Tilly. Ela ainda é a mesma personagem que vimos na primeira temporada. O episódio não nos deu nenhuma nova informação sobre a personagem que nós não tivéssemos. E com isso, me questiono sobre a utilidade dele para a narrativa principal.
Acho uma oportunidade perdida.Tínhamos 20 minutos de Tilly na tela, porque não aproveitar para desenvolver a personagem de uma maneira que dentro de Discovery seria mais difícil? Simplesmente gastaram o tempo de tela para “preencher o vazio” entre temporadas. Caso eles se preocupassem em preencher o vazio que existe dentro da própria série, certamente teriam mais sucesso.
Num geral, mais um episódio “banho Maria” que Discovery nos entrega. Não é uma porcaria, mas não sei o porquê foi feito.
O que podemos esperar?
Tudo isso pode não parecer grande coisa, mas diz a respeito de como a série, e os fãs, estão sendo tratados, e nos faz desconfiar das “promessas” que estão sendo feitas de trazer Discovery para dentro do cânone de Jornada nas Estrelas. Se continuarem assim, não adianta de nada colocarem cabelo nos Klingons, ou trazer as cores de volta para os uniformes.
Já vimos que existem muitos problemas nos bastidores da produção da segunda temporada de Discovery, com uns falando que “tudo se encaixará no cânone” e outros falando que “não existe mais salvação”. Podemos certamente esperar uma viagem turbulenta pela frente.
Veja nossa discussão a respeito de Short Treks: Runaway
Próximo Episódio de Short Treks: Calypso