Short Treks – A Estrela Mais Brilhante [The Brightest Star] Review!
“A Estrela mais Brilhante” começa no planeta alienígena Kaminar, lar de Saru e da espécie Kelpien. Chegamos ao episódio em um adorável ambiente tropical com extraterrestres felizes fazendo um pouco de horticultura costeira, coletando algas (mais sobre isso daqui a pouco). Rapidamente percebemos que os Kelpiens não são uma sociedade de alta tecnologia, o que nos dá a primeira pista do motivo pelo qual Saru foi o primeiro conhecido em Jornada nas Estrelas, e funciona como um escudo contra críticas acusatórias sobre problemas de continuidade.
No piloto de Star Trek: Discovery, Saru foi apresentado como alguém motivado pelo medo, dizendo a Michael Burnham como em seu mundo você era “predador ou presa“. Através de cenas no início e através da narração de Saru, este novo mini episódio nos mostra como o seu povo voluntariamente se sacrifica para os predadores, para preservar o que é chamado de “Grande Equilíbrio” do planeta. No que parece à superfície como uma cerimônia idílica cheia de luz e tradição religiosa, vemos Kelpiens “chamados” a essa “colheita” e levados para destinos desconhecidos – mas quase certamente desagradáveis. Saru resume as coisas, lamentando “esta é a vida de um Kelpien.” Basicamente a vida é uma droga para os Kelpiens, mas parece que Saru é o único que não está confortável com isso.
Aprenderemos mais sobre a família de Saru, conhecendo sua irmã Siranna e seu pai. Como o padre da aldeia, o pai de Saru comprou a mitologia construída em torno dessas colheitas em grande estilo. Ele ensina os outros a aceitar e até receber os sacrifícios aos predadores, conhecidos como Ba’ul. O abate regular dessa raça senciente está escondido sob camadas de crenças e mitologia.
Saru questiona tudo, incluindo seu lugar na hierarquia universal. Podemos ver como Saru é um explorador e um cientista nato, prenunciando seu destino na Frota Estelar. É claro que padre pai não está tendo nada disso, assegurando que se o Grande Equilíbrio tivesse significado para Kelpiens voar, eles teriam asas. Uma leve chamada para um dos discursos mais fortes de Kirk, onde ele diz que o ser humano não foi criado para voar, mas descobriu que precisava. (Episódio “Volta ao Amanhã” [Return to Tomorrow])
Os Kelpiens estão cegos por esta noção de “equilíbrio” e, aparentemente, a única maneira de mantê-lo é “sustentando” os Ba’ul. O pai de Saru não tem o menor problema com este massacre sistemático de seu povo, dizendo a seu filho que ele deveria se sentir “honrado” se escolhido para sacrifício. O pobre Saru é atraído para uma maior compreensão de como e por que as coisas são como são, funcionando como a clássica história da jovem curiosidade que luta contra a tradição ancestral e a ignorância.
Mas os Ba’ul não são perfeitos, deixando cair da nave um equipamento, o que parecia ser uma coisa normal. Ignorando as regras de Papai Saru, para destruir a tecnologia proibida, Saru sem nenhum treinamento usa facas de cozinha para fazer o dispositivo funcionar e até envia uma mensagem.
Saru começa sua espera por uma resposta ao seu pedido aos céus, enquanto ele luta contra todos esses instintos e tradições. Mostrando como ele se vê separado, ele pergunta: “Como essa vida poderia ser suficiente para eles, simplesmente esperar para ser tomada?“
Não precisamos esperar muito para que Saru receba uma resposta de “Olá” (por sorte não um “Olá Vulcano“) ao seu chamado e ele planeja sua remoção do cardápio. Abandonar o pai não parece afetar Saru de nenhuma maneira, mas podemos sentir seu coração apertar quando se despede de sua irmã. Mais uma vez Doug Jones mostra em sua arte a capacidade incrível de transmitir emoções sob camadas de maquiagem.
Longe da aldeia, Saru espera seu resgate. Saru cumprimenta sua futura Capitão – Michelle Yeoh em uma participação como Tenente Phillipa Georgiou. Ela convenceu a Frota Estelar a quebrar as regras da primeira diretriz e o primeiro contato, devido ao que ela diz serem as circunstâncias extraordinárias que Saru introduziu ao modificar sua tecnologia roubada.
Mas a Ordem Geral da Frota Estelar só pode ser violada um pouquinho, e agora Saru se depara com uma escolha terrível. Conquistar suas asas para obter respostas para todas essas perguntas, com o preço de nunca mais voltar para ajudar o resto de seu povo, ou esperar virar “Frango a Saruzinho“. Vencendo seus instintos de fugir, Saru se despede de Kaminar dizendo “meu lugar não está mais aqui”, e entra em seu futuro, acompanhado pela força nostálgica da musica tema de Jornada nas Estrelas.
Mas “A Estrela mais Brilhante” é bom?
Saru é um personagem de destaque em Star Trek: Discovery, mantendo a tradição do “outro“, como explorado por personagens do passado de Jornada, como o Spock, Data, Odo ou o Doutor. Explorações desses personagens sempre foram bem-vindas, o que torna estranho a primeira visita a Kaminar tenha sido feita em Short Treks. Devido ao formato mais curto, seria injusto levar esse formato para outros episódios reveladores de personagens, como “Tempo de Loucora” [Amok Time] ou “Datalore”.
Quando o encontramos Saru em Discovery, vemos uma certa ambiguidade. Somos constantemente informados de que sua raça é uma presa temerosa, evoluída biologicamente para “sentir a vinda da morte” e tratar cada ameaça como uma situação potencialmente fatal. Saru está desconfortável em perto de conflitos, tanto no “cenário de guerra” de Discovery quanto em relacionamentos interpessoais, e qualquer momento de desafio ele é geralmente apresentado como um defensor de regras e protocolos. Isso faz com que a ideia de que ele seja o único do tipo na Frota Estelar compreensível porque, de certa forma, parece que nem Saru deveria estar lá. Se ele está tão aterrorizado com o perigo iminente, como não está constantemente sobrecarregado, não apenas pela Frota Estelar em guerra, mas pelo medo diante da exploração das incógnitas do espaço?
Discovery nos diz que simplesmente estar lá deveria ser um testemunho do entusiasmo de Saru, que apenas existindo nesse cenário ele está superando tudo o que o programa constantemente nos lembra quando se trata de sua espécie. O episódio realmente revela como Saru combate esse medo sempre presente, fazendo dele um modelo dos ideais de franqueza e desejo de viajar da franquia.
Este episódio dança em torno de uma premissa básica, o antiquíssimo favorito Trekker, conflito entre religião e ciência através da curiosidade de Saru e da devoção sacrificial e autodestrutiva dos Kelpianos aos Ba’ul, reformulando Saru de um perpetuamente medroso, por um curioso romântico, corajoso o suficiente para desafiar o modo estabelecido de coisas para saciar seus anseios intelectuais. Sua decisão de deixar Kaminar não é motivada pelo medo, mas por sua bravura, e desejo de ver o que está lá fora no universo, esperando por ele. Saru vai audaciosamente onde nenhum Kelpien jamais esteve.
Saru e Burnham
Retroativamente, o pesar e a raiva que Saru sentiu em relação a Burnham no início da primeira temporada do Discovery, com a morte de Georgiou, não só faz mais sentido como o torna infinitamente mais trágico. As ações de Burnham custaram a vida da mulher que alimentou a curiosidade de Saru e lhe deu seu ingresso para explorar o universo que ele sonhava. Ele não perdeu apenas uma amiga, mas a figura mais importante em dar-lhe a vida que ele tem agora.
Este episódio nos lembra de outros membros de raças alienígenas que desafiaram sua própria cultura e se juntaram a uma sociedade diferente, como Worf, ou mesmo Spock. Ele também lembra um pouco do episódio “Correspondentes“ [Pen Pals] (segunda temporada, episódio 15) de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, onde Data luta com o dilema moral de violar a Primeira Diretriz ou deixar de lado enquanto sua amiga, uma jovem de uma civilização pré-dobra , enfrenta a aniquilação iminente.
A Primeira Diretriz
Lidar com espécies pré-dobra e primitivas é um tema recorrente em Jornada nas Estrelas, e algo tratado em cada interação de Jornada, e agora é a vez de Discovery.
Uma das grandes qualidades da a Primeira Diretriz é o drama que surge do dilema moral que força aos oficiais da Frota Estelar. Quantas vezes vimos personagens de Jornada lutando com essa política de não-intervenção diante de testemunhar dificuldades e tragédias?
É discutível que Georgiou e a Frota Estelar quebraram suas próprias regras, fazendo contato com Saru. Star Trek: Discovery na verdade começou com uma interpretação duvidosa do Primeira Orden geral. Em “O Olá Vulcano” [The Vulcan Hello], Georgiou e Burham estavam preocupadas apenas em serem pegas interferindo no mundo natal dos Crepusculanos, e pareciam não ter escrúpulos com a interferência em si. Assim, poder-se-ia até tentar defender um padrão de interpretação imprecisa da Primeira Diretriz, no entanto, no contexto, Georgiou estava realmente contida. Algumas liberdades vem com o posto, talvez.
Ela poderia ter escondido sua abordagem e partir de Kaminar mais habilmente, mas foi Saru quem fez o primeiro contato. Ele mostrou compreensão da tecnologia também parecia entender que os outros viviam entre as estrelas. E aqui as coisas rodam um pouco mais rápido, durante os dias de diplomacia cowboy do século 23. Podemos facilmente imaginar Kirk dando um asurra nos Ba’ul, chutando-os para longe de seu pequeno bufê Kelpien ou pelo menos dando uma mãozinha aos Kelpiens , como fez em “Uma Guerra Particular” [A Private Little War].
Sem saber se os Ba’ul são alienígenas ou nativos de Kaminar, também fica difícil entender como isso tudo se encaixaria na Primeira Diretriz. Entretanto não me parece que os roteiristas pensaram muito a respeito, mas seria interessante ver Saru lutando com esse dilema no futuro.
Os Ba´ul
Nós já sabíamos que os Kelpiens eram presas de uma espécie de predador. Saru havia falado sobre como os Kelpiens eram caçados e eu esperava os caçadores de alienígenas predadores como , bom o “Predador“, ou a versão xerocada de Jornada nas Estrelas: Voyager, os Hirogen. No entanto, o que recebemos foi uma luz no céu que teletransporta sua comida. Saru fala sobre como os Kelpiens foram criados e cultivados e como o “gado de antigamente”. A relação dos Kelpien com os Ba’ul é algo menos gazela e leão e mais gado e humano.
Agora, são os Ba’ul nativos de Kaminar? Não está claro por que os Ba’ul gostariam que um rebanho domesticado tivesse instintos de fuga, gânglios de ameaça e mecanismos de defesa como o “coice de Saru” que vimos em “Si Vis Pacem, Para Bellum”. Teriam os Ba´ul no passado, apreciado a caça de sua presa, e agora perderam esta tradição?
Mostrando a relação desta maneira, podemos evitar clichês de caçadores / presas e mergulhar em uma história sobre opressão, com os Kelpiens sob a mais brutal das ocupações. Nós também temos uma boa alegoria sobre como o poder do mito e da propaganda pode ser usado para os mais sinistros propósitos .
A Alga sendo cultivada
OK, esta eu demorei para pegar. No começo do episódio, vemos os Kelpiens colhendo algas. Em inglês, estas algas são chamadas de… prepare-se: KELP! Logo, aqueles que cultivam as Kelps, são os Kelpiens!
Kelps, são grandes algas marinhas marrons que formam a ordem Laminariales. Existem cerca de 30 gêneros diferentes. Kelp cresce em “florestas submarinas” (florestas de kelp) em oceanos rasos, e acredita-se que tenha aparecido no Mioceno, de 23 a 5 milhões de anos atrás. Os organismos requerem água rica em nutrientes com temperaturas entre 6 e 14 ° C. Eles são conhecidos por sua alta taxa de crescimento. Os gêneros Macrocystis e Nereocystis podem crescer a até meio metro por dia, chegando a 30 a 80 metros.
Pensamentos soltos:
- Porque os Predadores não são vistos? Teremos alguma revelação futura, como talvez serem da mesma espécie que Saru, cometendo canibalismo?
- Para que servem realmente os “gânglios“? Pelo que nos foi explicado era para sentir o perigo. Um traço evolutivo de presa para poder fugir de seu predador. Mas agora eles simplesmente se entregam de bom grado para o sacrifício?
- Saru olha para o céu, da mesma maneira que “Moonwatcher” olhava mara a lua em “2001: Uma Odisseia no Espaço“.
- O Primeiro contato de Saru com a Frota Estelar ser Georgiou, faz com que o universo pareça pequeno e cheio de coincidências. Algo que Discovery faz com frequência.
Temas Parecidos:
O Restaurante do Fim do Universo – No restaurante Milliways, existe o “Prato do Dia“, é uma raça de criaturas sencientes artificialmente criadas que foram criadas para quererem ser comidas, mas vacas Ameglianas.
Fuga do Século 23 [Logan´s Run] – Tanto o livro quanto sua adaptação para o cinema. Aqui nos é mostrada uma sociedade que ao atingirem determinada idade, as pessoas se sacrificam de bom grado.
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