Star Trek Discovery – Segunda Temporada – Luz e Sombras
Luz e Sombras (Light and Shadows), nos trás o novo Spock (Ethan Peck), que não é mais “o Spock que você se lembra” nos lembra Amada (Mia Kirshner); nos expande um pouco sobre o mistério do “Anjo Vermelho” e explora a relação agita de Pike (Anson Mount) e Tyler (Shazad Latif). O Sétimo Episódio da Segunda Temporada está longe de ser perfeito, e certamente colocará uma boa parcela dos fãs em desconforto, mas é, no mínimo, bem divertido de assistir. Com algumas referências interessantes a Série Original de Jornada nas Estrelas e a definição que o conceito de viagem no tempo fará parte desta segunda metade de temporada, Luz e Sombras se mostra bem mais sólido que seu antecessor O Som do Trovão.
Luz e Sombras
Burnham (Sonequa Martin-Green) chega a Vulcano, na casa de seus pais, em busca de respostas sobre o possível paradeiro de seu Irmão Spock. Lá ela encontra seu pai, Sarek (James Frain), em uma espécie de meditação, chamada de Tokmar. Tokmar é um modo dos vulcanos encontrarem outros através de telepatia, e acredita-se que através desta técnica seja possível trazer “almas perdidas” para casa. Esta é a primeira vez que tal técnica é mencionada em Jornada nas Estrelas, trazendo um pouco mais do “misticismo vulcano” a mesa.
Sempre tivemos os vulcanos como seres bastante “táteis”, com uma grande variedade de gestuais feitos com as mãos, para representar seus costumes, e embora existam precedentes como Spock induzindo a mente de uma mulher em “A Glória de Ômega” [The Omega Glory] ou T´Pol (Jolene Blalock) se comunicando com Tucker (Connor Trinneer) de uma nave para outra em “Aflição” [Afliction], estas sempre foram cenas que me pareceram um pouco fora do que é estabelecido como “cultural dos vulcanos“, colocando a Fusão Mental Vulcana em um patamar mais baixo do que deveria. Após nos mostrar Sarek se comunicando com Burnham anos luz de distância, Discovery volta e reforça este traço da cultura vulcana. Isso não é um problema, mas tira aquele sentimento que este “contato de mentes” fosse algo mais íntimo e difícil de se conseguir.
Sarek não está conseguindo o contato pretendido, e como Burnham argumenta, a mente dele é a mais poderosa que ela conhece, logo algo deve estar errado. Neste ponto, o foco se volta para sua mãe, Amanda, que estava escondendo algo de todos. Ela já havia encontrado Spock, e o escondeu para protegê-lo. Afinal, qual mãe não passaria por cima de Deus e o Mundo para proteger um filho?
Como todos sabemos, Spock está sendo procurado sob a acusação de matar os médicos do centro psiquiátrico no qual ele estava internado por vontade própria. Quando em fuga, ele foi procurar proteção com a mãe, que o escondeu dentro de uma espécie de cripta, onde são guardadas as “Pedras de Katra“, outra adição para a mitologia da cultura vulcana. Aparentemente o Katra, o “Espírito Vivo Vulcano“, pode ser preservado e mantido nestas pedras. Isso me remete diretamente aos “Soul Hunters” de Babylon 5, que buscam pessoas no momento de suas mortes para capturar suas almas e assim as preservar.
Eu gostaria de fazer uma pausa aqui. O que impede os Vulcanos de serem, basicamente, imortais? A primeira vez que o conceito do Katra nos é apresentado, é em “Jornada nas Estrelas III: A Procura de Spock“, o que vem bem a calhar visto que esta temporada até o momento foi uma grande “procura por Spock“. Lá, o Katra de Spock é preservado dentro do corpo de McCoy, para depois ser feita o Ritual “fal-tor-pan“, para reuni-lo com seu corpo recém criado pela Onda Gênesis. Dato que a clonagem é possível no universo de Jornada, não poderia ser feito a reunificação do Katra com um novo corpo idêntico ao antigo? Voltando ao episódio…
São justamente estas “Pedras de Katra” que impedem que Sarek encontre Spock telepaticamente. Mas Sarek as segue e encontra Spock quando Burnham e Amanha estão discutindo qual o caminho que deveria ser seguido. Amanda acredita que Spock tem que ser mantido escondido para se recuperar, enquanto Burnham acredita que ele tem que ser levado para um médico; afinal, caso ele fosse Vulcano, esta quantidade de “emoção” já o teria matado. Uma interessante referência a “Filhos de Platão” [Plato´s Stepchildren], onde McCoy faz um comentário nas mesmas linhas.
O motivo das Pedras de Katra impedirem o contato não é claro no episódio, mas parece funcionar como o chumbo que impede que Super-Homem veja a calcinha rosa de Louis Lane. Talvez pela concentração de Katras em um mesmo lugar, a comunicação tenha algum tipo de interferência que dificulte o reconhecimento de um Katra específico. Gostaria que isso tivesse sido melhor desenvolvido pelo roteiro, já que realmente me parece um conceito bacana que, mas sem uma explicação para embasar, soa como uma “saída fácil” do roteirista.
A solução que os três encontram, não me parece muito lógica: Deixar que Burnham leve Spock para a Seção 31. Não que eu queira discutir lógica com o Pai de Spock, mas não me parece a ação mais lógica do mundo! Enquanto eles podem manter Spock com cuidados de médicos Vulcanos, pessoas que entendem da fisiologia Vulcana e de seu misticismo, o caminho lógico é entrega-lo justamente para quem o estava perseguindo? Assim Burnham vai com seu irmão ao encontro da Seção 31. Lembrem-se que da última vez que Sarek deu um conselho a Burnham, minutos depois a Guerra Klingon estourou. Talvez ela não devesse leva-lo tão ao pé da letra.
Chegando lá, a família da Seção 31 está toda reunida, e Leland (Alan Van Sprang) já quer extrair a memória de Spock a força, o que Georgiou (Michelle Yeoh) secretamente informa a Burnham que ira danificar o Cérebro de Spock irremediavelmente. Assim Burnham foge da Nave da Seção 31 com seu irmão, novamente foragidos. Estruturalmente este arco todo de história não serve para nada. Eles não receberam nenhuma informação útil para a história, e continuam na mesma situação de quando chegaram. Um erro primário de roteiro, e realmente um incômodo de ver.
Abordo da Nave Auxiliar, Burnham tem uma epifania. Os números que Spock balbuciava, estavam de trás para frente. Exatamente como ela chega nesta conclusão, é mais uma das coisas que não são claras no roteiro. Ao pesquisar sobre a sequencia numérica no computador, descobrimos que são as coordenadas para Thalos IV, onde Spock esteve anos antes com o Capitão Pike, resultando na Ordem Geral 7 que proíbe qualquer membro da Frota Estelar de se aproximar de Thalos IV sob pena de morte. O único caso da penalização máxima constando nas leis da Frota Estelar.
A maneira que nos é revelado que eles devem ir para Thalos IV é cheia de pequenos problemas, mas acho interessante revisitar Thalos. A história de Thalos IV é a única história de Pike que temos na Série Original, e ao trazerem Pike para a série, era quase previsível que fossem tocar no tema em algum ponto. Burnham é conhecida por não ser parada por regras, e acho que quebrar mais uma regra para ajudar o irmão, uma história interessante de ser explorada. A minha preocupação está justamente com os roteiristas, que notoriamente sofrem para criar linhas narrativas concisas e sem buracos, ou pelo menos com uma quantidade de buracos aceitável.
Pike, Tyler, os Sentinelas de Matrix e a Bolha Temporal
Como história secundária no episódio, Pike e Tyler pegam uma nave auxiliar e entram em na Bolha Temporal que aparece próximo a Kaminar. Porque nas naves auxiliares não tem mais nomes? Eu sinto falta das naves terem nomes bacanas. Galileo 7, Copernicus…
Todo este arco, serve para nos deixar claro que Viagem no Tempo fará parte desta segunda temporada de Discovery, e grande parte da ação gira em torno de ondas temporais que permitem que Pike presencie cenas antes que elas realmente aconteçam. No caso ele se vê atirando em Tyler. Dado a rivalidade que estavam criando entre os dois, eu me diverti muito toda vez que Pike ia até o fundo da nave no local onde a visão acontecia. Será que é agora, será que é agora?
A diferença é que ele não estava atirando diretamente em Tyler, mas sim no braço mecânico da sonda que eles mesmos lançaram antes, mas que retorna 500 anos mais velha e alterada tecnologicamente. Aparentemente ela encontrou com as Sentinelas que caçaram a Nabucodonosor em Matrix, visto que seus braços mecânicos à la Doutor Octopus, são basicamente os mesmos.
No final das contas, é o treinamento da velha guarda de Pike que acaba permitindo que a tripulação da Discovery os encontre, mas é o technobabble de Stamets (Anthony Rapp), que com um discurso inflamado fala para Tilly: “Confie na Matemática, e acima de tudo, confie em você“. Como assim, “acima de tudo confie em você“? Confie na Matemática! Eles são cientistas! Eles precisam confiar nos dados que eles tem, na ciência e na experiência. Este discurso de “se der errado, nos iremos te amar da mesma maneira“, para mim não funciona.
Eu gostava da rivalidade que estavam construindo entre os dois. Ela nos dava uma camada a mais de conflito na série, que alias era o único conflito entre personagens que existia. De resto meio que todos sempre concordam com todos. Eu acho que será um desperdício se agora, por causa desta história da nave auxiliar, eles deixarem a rivalidade de lado. Tudo bem que foi uma situação de “vida ou morte” que tende a aproximar as pessoas, mas então que isso ficasse mais para o final da temporada.
Mas num geral, uma sequência de ação bacana de se ver, que preenche bem o espaço deixado pela história principal.
Veja nossa discussão sobre o episódio em vídeo!
Pensamentos Soltos no Espaço
- Se eu fosse Capitão e o Tyler viesse jogar a insígnia no meu colo, antes dela cair ele já estava na prisão.
- Em compensação Pike da mais um “aquieta” em Tyler. “A cadeira está acima do distintivo“! Esse tipo de diálogo que será perdido caso eles virem amiguinhos agora. Quero que eles continuem se alfinetando!
- A Georgiou tem realmente que dizer o quão má ela é em todas as frases? Ela era um personagem interessante, mas os roteiristas não estão criando bons diálogos para ela. É uma pena.
- Porque o Pike não vê o braço da sonda durante a visão dele do futuro?
- Se Burnham e Spock forem até Thalos IV, sem o conhecimento da Frota Estelar, tudo bem. Caso contrário vai ter muita gente xingando até a sétima geração da família dos roteiristas.
- Já que estamos a caminho de Thalos IV, seria legal a Número 1 aparecer. Depois do tamanho da propaganda que fizeram, ela ficar só no hamburgão é triste.
- Leland é o responsável pela morte dos pais biológicos de Burnham. Nos precisamos mesmo de mais uma trama girando ao redor do umbigo de Burnham? Caso ela não exista, o universo não roda, né?
Ficha Técnica
Direção: Marta Cunningham
Roteiro: Ted Sullivan
Estréia: 01 de Março de 2019
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