Star Trek Discovery – Segunda Temporada – Episódio 04 – Uma Moeda para Caronte – Review
Uma Moeda para Caronte [An Obol for Charon], é o Quarto Episódio da Segunda Temporada de Star Trek Discovery, e nos trás ligações com os episódios Short Treks que foram lançados entre as temporadas, juntamente com leves referências a série original de Jornada nas Estrelas que tanto amamos. É um episódio interessante e energético, mas não sem algumas questões a serem levantadas. Vamos dar uma olhada mais de perto.
A Número Um
Finalmente encontramos a Número Um (Rebecca Romjin), entrando em cena e trazendo luz e cor para a série. Como os uniformes coloridos fazem falta! Enquanto ela conversava com o Capitão Pike (Anson Mount), o uniforme propiciava uma imponência tamanha que passava a impressão dela ser superiora a Pike, e não o oposto. O uniforme azul de Discovery fica apagado, e esta cena só fortalece o argumento que eles deveriam abandonar estes uniformes e assumir os coloridos. Quem sabe no futuro…
Romjim assume o personagem com segurança e desenvoltura, mesmo tento largos sapatos para preencher. A Número Um havia sido antes interpretada por ninguém menos de Majel Barrett Roddenberry, esposa de Gene Roddenberry, Primeira Dama de Jornada nas Estrelas, que interpretou diversos personagem ao longo das diversas incarnações da franquia.
Fico feliz com a maneira que ela foi mostrada em cena, como uma Comandante capaz e inteligente, disposta a quebrar algumas regras quando necessário, sem perder a autoridade. Mesmo comendo um Hamburgão no refeitório da nave. Espero que não demore para ela aparecer novamente e que não a tenham trazido de volta somente para uma “participação especial chique”.
Saru
A força emocional do episódio está centralizada na história de Saru (Doug Jones), que aparentemente estava “resfriado”. Saru está enfrentando o Vaharai, uma inflamação dos Gânglios que acontece quando próximos ao fim. Saru nos informa que o quadro é irreversível. Não posso negar, Saru é meu personagem favorito da série e até onde me diz respeito o legítimo herdeiro da Cadeira de Capitão. A perspectiva de não ter mais Saru na série me foi angustiante, e por boa parte do episódio não me parecia um daqueles “daqui a pouco eles encontram uma maneira de salva-lo”. Eu cheguei a acreditar que ele sairia da série. Que bom que eu estava errado.
Os gânglios de Saru estavam sendo afetados pela “grande bola vermelha” que prendia a nave em estase no meio do espaço, mais sobre isso daqui a pouco. Saru diz que quando alcançam o Vaharai, ou eles são levados pelos Ba’ul, ou sucumbem a loucura, e neste ponto ele pede para Burnham (Sonequa Martin-Green) que ele lhe corte fora os gânglios para que ele morra sem enlouquecer. É uma cena muito forte, e embora eu tenha problemas com o personagem de Michael Burham, a atriz Sonequa Martin-Green fez um trabalho realmente ímpar nesta cena.
A Grande Bola Vermelha
Aqui temos a força motriz do episódio. Ao percorrer o espaço a Procura de Spock, a Discovery é subitamente interrompida por uma força superior, que a impede de continuar seu trajeto. Um clichê da série original, Balok deve estar orgulhoso. É muito bacana ver a tripulação trabalhando para resolver um problema aparentemente intransponível, e termos um Capitão disposto a ouvir todas as opções possíveis antes de atacar um ser desconhecido. A Trama se complica, visto que eles não podem ficar parados por muito tempo. Eles estão em perseguição de Spock, que se si distanciar muito será perdido irremediavelmente.
E justamente Saru, que encontra a resposta para o problema, apesar de debilitado pelo Vaharai. Este não é um primeiro contato, mas sim o último. A criatura que está os prendendo, quer apenas comunicar-se e transferir todo o conhecimento por ela adquirido em seus 100.000 anos de vida. Imagine o quanto de informação e cultura não está acumulado por ela.
Aqui eu tenho um problema com o episódio: Porque eles tinham que baixar os escudos na nave para que a transferência dos “arquivos” pudesse ser completada? Eles se comunicam tranquilamente com outras naves com os escudos levantados. Como exatamente os escudos bloqueiam a transferência desta informação?
Se tivessem dito que existia uma espécie de proteção nos sistemas de comunicação da nave, que limitasse a banda de transferência para evitar uma sobrecarga, faria algum sentido. Ai sim, eles teriam que tirar este “gargalo” para que a capacidade da transferência fosse aumentada. Não os escudos! Gosto da ideia, mas odeio a execução.
Depois de terminada a transferência, recebemos a informação que a quantidade de informação recebida é tamanha que será o bastante para manter os cientistas da federação por séculos ocupados. Eu gosto muito deste conceito. Enquanto isso amplia o universo de Jornada como um todo, ele não entra em conflito com histórias preexistentes, mantendo a canonicidade da série, intocada. Embora seja sempre tempo de melhorar, é algo que Discovery poderia ter feito desde o começo.
Tilly e o Grande Fungo
Como pano de fundo do episódio, temos novamente as “Aventuras de Tilly e o Grande Fungo Espacial“. Após ter o ser retirado dela no último episódio, ela e Stamets (Anthony Rapp) tentam compreender qual a real intenção dele. Como previsto, transitar pela Rede Micelial danifica a rede. Para isso eles perfuram a têmpora de Tilly para conseguir se comunicar melhor com a criatura. Neste momento temos uma cena de “possessão” em Discovery! Por mais estranho que pareça, esta foi uma cena bem vinda. Ela é inesperada, e tem uma bizarrice deslocada, que não se encaixa com o resto do ambiente. É por isso que gostei tanto dela, ela me causou estranheza, e o universo ficou maior novamente.
A criatura, chamade de May pela maneira como ela apareceu para Tilly, atravessa para o nosso lado da rede, não só para avisar para parar, mas com um ultimato. Embora Stamets tenha dito que faria de tudo para consertar o dano causado, May não fica satisfeita, e algo muito ruim acontecerá com Stamets em em um futuro próximo. Ao final desta história, vemos Tilly sendo abraçada por Stamets, mas a expressão no rosto dela, não me parece ser de Tilly, e sim de May.
Fonte de Energia Limpa?
Durante a cena de Tilly, temos Jett Reno (Tig Notaro) como uma antagonista de Stamets. Enquanto Stamets é o cientista jovem com idéias novas, Reno é uma engenheira das antigas, que gosta que as coisas funcionem. Com uma língua afiada e com o poder de ser “inofendível”, se é que a palavra existe, ela rouba a cena para ela, deixando Stamets de calças curtas. Gosto do personagem, embora seja bem diferente do que imaginei que ela seria.
Durante a Série Original de Jornada nas Estrelas, vemos planetas de mineração de cristais de Dilítio, como em “As Mulheres de Mudd“, ou ainda planetas autômatos de extração como em “Onde nenhum homem jamais esteve“. Mas o exemplo mais forte que tenho, é “O Demônio da Escuridão” onde temos um estação de mineração que está colocando em risco a Horta, uma criatura a base de silício. Notoriamente a Federação ainda está longe de deixar de explorar recursos naturais para sustentar sua Utopia.
O ponto da discussão deles é válida é atual. Temos combustíveis fósseis não renováveis e poluentes, e do outro lado temos fontes de energia limpas e renováveis. Uma é eficiente e já está funcionando, a outra nem tão eficiente e existe um custo de implementação. E como o próprio episódio coloca em discussão, nem sempre a “energia limpa” é tão limpa assim. Por exemplo: A Energia Solar, aparentemente sem resíduos, tem um impacto ambiental bem considerável, para a construção das placas de energia fotovoltaicas e baterias. Ou as hélices para captação de energia eólica, que é responsável pela morte de milhares de pássaros em épocas migratórias…
Fico feliz de ver Discovery nos trazendo temas atuais para serem discutidos. Enquanto a internet discute se Discovery é ou não Jornada nas Estrelas fico aliviado de ver que, caso não seja, ela está pelo menos tentando.
Veja nossa discussão sobre o episódio em vídeo
Pensamentos soltos no Espaço
- Inglês não é a língua Padrão da Terra? Nenhum terráqueo fala mais de uma língua? Parece que o tradutor universal nos deixou preguiçosos…
- O Quarto de Saru é o quarto mais legal de todos! Cheio de plantas, uma pedra em cima da cama para ele se recostar e assistir uma televisão… Muito aconchegante.
Ficha Técnica
An Obol for Charon – Uma Moeda para Caronte
Direção de Lee Rose (Lost Girl, Dark Matter e True Blood)
Roteiro de Andrew Colville (Treshhold, Nikita, The 4400)
Lançamento: 07 de Fevereiro de 2019
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