Star Trek: Discovery – Segunda Temporada Episódio 2 – Novo Éden [New Eden] – Análise
O segundo episódio da Segunda Temporada de Star Trek: Discovery, Novo Éden [New Eden], tenta retornar as origens de Jornada nas Estrelas, com temas sobre exploração espacial e condição humana perante o desconhecido. Trazendo uma tripulação mais integrada e participativa; trazendo, talvez, luz para iluminar o caminho após uma era de escuridão.
Novo Éden
Após o retorno de Star Trek: Discovery para sua Segunda Temporada, pudemos sentir uma “mudança de tom” na série. No primeiro episódio, “Irmão“, tínhamos a releitura dos uniformes coloridos clássicos, um clima de aventura e mistério e um princípio de integração dos “personagens mobília” que preencheram a ponte de comando por toda a primeira temporada. Mas um problema persistia: A necessidade de transformar Michael Burnham em uma pessoa perfeita, onde ninguém poderia opo-la em nenhum campo de batalha; nem físico, nem intelectual e muito menos moral.
O roteiro de “Novo Éden” foi escrito por Sean Cochram, que já fazia parte da mesa de roteiristas de Discovery desde a primeira temporada, e escreveu o espertíssimo curta-metragem para os “Short Treks“, Calypso. Cochram nos entrega um roteiro que aponta diretamente para o clima de Jornada nas Estrelas que muitos fãs sentiam falta, com discussões um pouco mais aprofundadas que nos mostram diversos pontos de vista, trazendo mais personagens para a mesa, não nos deixando somente com a visão unilateral de Burnham.
Uma das espertezas do episódio é justamente colocar Burnham de lado por grande parte do episódio. Ela tem uma cena inconveniente no início do episódio para nos lembrar que ela é superior em todos os aspectos, mas logo após ela é deixada como pano de fundo. Como é bom ver uma tripulação trabalhando em conjunto, cada um com suas habilidades particulares, para resolver um problema! Não é para isso que temos uma equipe?
Burnham volta próximo ao final do episódio para mostrar sua opinião a respeito do assunto, e ainda completa com um “isso é para o Capitão decidir“! Isso não é algo que veríamos o personagem fazer na primeira temporada, quando ela decidiria o destino da humanidade sem pestanejar. Enquanto isso pode parecer um “desenvolvimento do personagem” isso me soa mais com um desenvolvimento da produção que, depois de ouvir muito grito por parte da base de fãs indignada com os rumos da série, resolveu mudar.
A questão deste reposicionamento ser ou não uma grande maquiagem para aquietar os críticos mais verborrágicos se mantém, mas é de fato interessante, e talvez reconfortante, de se ver. Nós já fomos muito enganados por Discovery antes, e gato escaldado… A esperança é a mais frágil das vitórias, mas vitória, ainda assim.
Jonathan Frakes
Jonathan Frakes, o eterno Comandante William T. Riker de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, retorna para a cadeira de direção. Ele participou da primeira temporada de Discovery dirigindo “Apesar de Você” [Despite Yourself], onde conseguiu criar uma pequena miragem em meio aquele grande deserto de decepções. Seu retorno para a série, vem acompanhado de mais um pequeno milagre. Ele dirigiu ainda o episódio nono nesta temporada.
A direção de Frakes é precisa, tecnicamente inteligente e forte, enquanto consegue ser emocional e reverente. A cena final, onde luz se ascende dentro da Igreja é de uma beleza ímpar, tanto técnica quanto representativa.
Frakes dirigiu também um episódio da Primeira Temporada de The Orville, o episódio “Pria“, e retornará para mais na Segunda Temporada.
Uma nova luz para Discovery
Em Novo Éden, um dos Pontos Luminosos Vermelhos levam a Discovery a um planeta distante onde os descendentes de um grupo de Terráqueos que foi transportado durante a Terceira Guerra Mundial, reside. Lá eles criaram uma espécie de “Igreja Ecumênica“, resultando em uma nova religião que é a soma de diversas religiões terrestres.
No episódio a tecnologia estava escondida no subsolo da igreja, que mantinha a sociedade afastada de saber mais sobre seu passado. Entra Jacob (Andrew Moodie, de Dark Matter, Cypher e do remake de O Vingador do Futuro [Total Recall]), descendente dos cientistas trazidos para este planeta. Ele tem uma cede de conhecimento, ele sabe que existe algo por trás de tudo aquilo que ele vê subsolo da igreja. Ele quer saber mais!
O episódio gira em torno da Primeira Diretiva, que impede a Tripulação de influenciar o desenvolvimento de uma civilização pré-dobra. Como eles foram transportados antes que Zefram Cochrane criasse o motor que nos levaria as estrelas, eles são tecnicamente uma “civilização pré-dobra”. Mais sobre isso daqui a pouco.
Ao final do episódio, o Capitão Pike (Anson Mount), decide por trocar uma célula de energia por um capacete de um dos soldados transportados, que continha uma câmera com a filmagem dos acontecimentos logo após a chegada no novo planeta. Jacob usa esta célula de energia para energizar a Igreja. Não só esta e uma das imagens mais bonitas já produzidas para Discovery, como ela é extremamente representativa.
A Idade das Trevas chega ao fim. O Iluminismo chegou. A Ciência jogará luz na escuridão. A cena fala diretamente com a contestação da igreja tão influenciada por Espinoza. Ele foi um dos grandes influenciadores do Iluminismo, e citado em “Onde nenhum Homem jamais esteve“. O método científico agora questionará a dogmática igreja, e trará o conhecimento aos olhos de todos.
Esta cena é importante, pois pode representar o começo da reascensão de Jornada nas Estrelas como uma série humanista, que coloca inventividade e o empreendimento (Enterprise, empreendimento… pegou?) humano em foco novamente.
Bravo Jonathan Frakes! Bravo!
A Primeira Diretiva
Quero levantar uma questão aqui. No episódio eles consideram esta civilização como sendo uma civilização pré-dobra, pois foram levados ao outro planeta antes do desenvolvimento do motor por Cochrane. Não sei se fico confortável com esta afirmação. Ao desenvolver a tecnologia de viagem interestelar, aquela civilização como um todo está pronta para fazer parte da Federação de Planetas Unidos, mas só quem estava no planeta no momento do voo teste?
Digamos que existissem colonos terráqueos em Marte na época. Eles estariam fora do clubinho? Ou ainda, se Zefram Cochrane estivesse nesta hipotética colônia marciana ao inventar o motor, a terra seria então considerada uma “civilização pre-dobra”?
Por mais que me incomode, me vejo compelido a concordar com Burnham neste ponto. Talvez eles tivessem que ter a possibilidade de reintegração com a Terra. Fica a questão da vontade deles que quererem, mas ainda assim acho que deveria ser dava a opção. Se não reintegrar todos, pelo menos os que quisessem, com Jacob! Eles fizeram o mesmo com Saru, em “A Estrela Mais Brilhante“, porque não com Jacob?
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Pensamentos soltos no Espaço
- Eles não iriam parar de usar o Motor de Esporos? Parece que responder a uma ação por plágio não foi o bastante.
- Spock em um manicômio? Não sei se gosto da idéia. Vamos ver como se desenvolve.
- Em GURPS Fantasy (Steve Jackson Games, 1986), diversos povos são transportados para Yrth, através dos Cataclismos (Banestorms) que trazem vilas inteiras de outros mundos.
- A Tilly tem uma Tilly dentro da cabeça dela!
- Costelas quebradas são realmente uma coisa complicada. Nem a tecnologia do século 23 consegue consolidar os ossos com rapidez. Pobre Capitão Pike…
- Uma pitada de “Deste lado do Paraíso” [This side of Paradise]
Ficha Técnica
Novo Éden [New Eden]
Star Trek Discovery – Segunda Temporada
Episódio 02
Direção de Jonathan Frakes
Roteiro de Sean Cochram
Andrew Moody como Jacob
Lançamento: 24 de Janeiro de 2019
Saiba sobre a Primeira Temporada de Discovery
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