The Orville – Segunda Temporada – Episódio 04 – Nada Resta na Terra Exceto os Peixes
Nada Resta na Terra Exceto os Peixes
A Segunda Temporada de The Orville, começou com um tom diferente do esperado. Enquanto muitos esperavam um retorno com mais ação com foco maior nos elementos de Ficção Científica da série, ela inicia com calma e repleta de histórias em desenvolvimento de tramas e personagens estabelecidos na primeira temporada. Tendo Star Trek: Discovery um adversário forte, esta estratégia foi no mínimo, uma surpresa. Mas isso foi uma coisa ruim?
Para quem, como eu, adora histórias com personagens fortes e interessantes, é simplesmente um prato cheio. Para quem prefere histórias com uma atuação mais forte na trama, talvez seja uma decepção. Os três primeiros episódios da segunda temporada, foram fortemente marcados por trazer histórias iniciadas na primeira temporada e desenvolve-las, nos mostrando como cada um dos personagens responde aos desdobramentos dos acontecimentos.
“Nada Resta na Terra Exceto os Peixes” não é diferente, ela pega a ponta solta do final do sexto episódio, “Krill”, pega nossa mão e nos guia por uma viagem extremamente emocionante, com diversas referências, desde o título do episódio, filmes de ficção científica e é claro; Jornada nas Estrelas.
Obrigado pelos Peixes
Enquanto o título parecia ser uma referência a obra de Douglas Adams, Orville não vai pelo caminho óbvio, e nos presenteia com o Capitão Mercer (Seth MacFarlane) e a Tenente Tyler (Michaela McManus) fazendo uma sessão de cinema com “O Rei e Eu” [The King and I, 1956]. Fica clara a referência quando o Rei Mongkut de Siam [Yul Brynner] canta o trecho “ A Puzzement” (“Um Enigma”): “A menos que alguém escute alguém, não sobrará nada na Terra com exceção dos Peixes”.
“O Rei e Eu”, é um filme musical, baseado em um musical da Broadway, onde Anna Leonowens (Deborah Kerr), uma professora é contratada para ensinar os filhos do do Rei Siamês Mongkut. A cena em questão, é justamente o ponto onde o Rei se questiona a respeito de suas verdades absolutas, suas certezas e seus dogmas; se abrindo para a possibilidade do outro.
Tirando Sarro de Discovery
Durante a Primeira Temporada de Discovery, a CBS tentou esconder o fato que o ator Shazad Latif estaria interpretando dois personagens, Tyler e Voq. Bom, não exatamente dois personagens, mas duas versões do mesmo… Enfim. A tentativa deles de esconder o segredo, falhou miseravelmente. Entra Orville e nos faz exatamente a mesma coisa! Um personagem de espécie inimiga, altera geneticamente seu corpo para se infiltrar na nave, e tem um romance com o protagonista. Ah, e não vamos nos esquecer que os dois personagens se chamam Tyler. A diferença? Em Orville deu certo! Mesmo com a informação que McManus, a atriz que interpretaria o par romântico de Mercer, era a mesma que interpretou a Krill Teleya, ninguém desconfiou do que estavam fazendo!
Este é o nivel de conforto que os roteiristas de The Orville tem nas mãos. Com uma base sólida de tramas e personagens, eles podem se dar ao luxo de cutucar a série concorrente, simplesmente pelo prazer da piada.
Inimigo Meu
Tudo não passava de um plano para capturar o Capitão Mercer, afim de conseguir os códigos secretos da União e interceptar dados importantes. No desenvolver da história, os dois caem em um planeta, e são obrigados se esconder de uma outra ameaça. Aqui a relação dos dois se desenvolve de maneira similar a de Davdson (Dennis Quaid) e Jeriba (Louis Gossett Jr.) no genial filme de Wolfgang Petersen, Inimigo Meu (Enemy Mine, de 1985). Da dificuldade de tolerar o diferente, a discussões de divindades e fé, e suas habilidades de perdoar e confiar. Enquando Davidge acreditava em Mickey Mouse, Mercer conhece Billy Joel.
Inimigo Meu é um de meus filmes favoritos! Nunca é demais assisti-lo, e é sempre uma diversão. Este é um dos filmes mais importantes, tanto de minha formação cinematográfica, quanto de minha formação de caráter. E foi uma surpresa muito feliz ver alguns dos pulsos narrativos do filme de Petersen análogos aqui.
Construção de um casal
A cereja do bolo, reside no fato que Mercer gosta dela, e em algum ponto escondido por trás de todo este ódio racial que existe em Teleya, ela também gosta dele. Quando Mercer afirma que a mulher pela qual ele se apaixonou não era uma fantasia porque ela existia para ele, ela fica desarmada. Mercer resolve ir dormir, Teleya diz para ele dormir de lado, para ele não roncar. Eles são um casal novamente. Genial! Simplesmente genial.
Ao final do episódio, já de volta a bordo da Orville, Mercer diz a Teleya que chame seu povo para resgata-la. Com ela sem entender, Mercer diz que ele a está deixando ir. Ela não será uma prisioneira. A despedida dos dois é nada menos que fenomenal, mesmo com as limitações interpretativas de MacFarlane. O momento que “She´s Always a Woman” entra e a voz de Billy Joel toma a cena para si, é a hora de procurar aquele lenço de papel ao lado da cama. Sinceramente emocionante.
Mercer falando para Teleya que caso ela sinta saudades das sessões de cinema, ela sabe onde encontra-lo é a deixa perfeita para que ela possa voltar para a série, e possamos ver as negociações de paz entre as duas civilizações. Uma leve pitada de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida [Star Tek VI: The Undiscovered Country], para completar a já tão satisfatória lista de referências.
E mais, agora eu prefiro inclusive que o relacionamento dele com a Comandante Grayson (Adrianne Palick) não retome, e que possamos ver Teleya e Mercer novamente como um casal.
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Pensamentos Soltos no Espaço
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Como o Tenente Tharl (Patrick Warburton) coloca a camisa? Será que a tromba exôfago dele destaca da barriga para poder passar pelo buraco adaptado na roupa?
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Gostei muito dos Chak’tal! Quero mais episódios com eles!