The Orville – Segunda Temporada – Episódio 07 – Escudos – Review
O Sétimo Episódio da Segunda Temporada de The Orville, pode a princípio parecer “mais uma história de relacionamento”, mas assim que o genial roteiro de David A. Goodman engata a segunda marcha nós percebemos que existe muito mais ali que nosso olho percebe logo de cara. Orville simplesmente não escolhe caminhos fáceis em suas histórias, e não para de surpreender. Vamos olhar mais de perto.
Escudos
“Nunca esqueça o que você é. O resto do mundo nunca se esquecerá. Use isso como uma armadura e isso nunca poderá usado para machucar você.” — Tyrion Lanister, Game of Thrones
A história começa com a chegada da Orville a órbita de Moclan, para receber um brilhante engenheiro que fará a atualização dos escudos da nave, Locar (Kevin Daniels). Ele é o melhor em sua área de estudos, altamente competente e focado em seu trabalho. Ah, ele é ex-namorado de Bortus (Peter Macon), o que por si só já seria um conflito para o episódio, visto que Klyden (Chad L. Coleman) ficaria enciumado. Se Orville fosse uma série qualquer, este seria o conflito principal do episódio, renderia algumas boas risadas e nos divertiríamos. Mas Orville não é uma série qualquer.
Durante a instalação do novo sistema de escudos, Locar e a Tenente Keylai (Jessica Zsohr) tem um “clima”. Eles se olham e trocam sorrisos. Algo está no ar. O fato é que Locar se sentiu atraído por Keylai, que acha estranho dado que os Moclans são uma espécie exclusivamente de machos, ou quase, como descobrimos ao final de Sobre uma Garota [About a Girl]. Quando ela o questiona, Locar diz que existem alguns deles que sentem atração por fêmeas, mas que isso é tido como um taboo e nunca mencionado para ninguém. Mais tarde descobriremos que é muito mais grave que isso, e é considerado um crime punível de morte.
Keylai fica intrigada e se sente atraída por ele. Afinal de contas, ele é uma pessoa interessante, bem sucedida e está interessado nela. Porque não? Ela o leva para a sala de simulação, onde pode conversar privadamente. Infelizmente ela tem um chamado e tem que sair correndo para resolver. Coisas de chefe de segurança. Locar fica na simulação esperando por ela.
Entra Klyden, enfurecido e esbravejando, com ódio nos olhos e diz: “Eu sei o que você é!“, saca uma arma e desintegra Locar a sangue frio. A gravação da simulação tem um problema que impede que o assassino seja identificado, mas graças as habilidades de LaMarr (J. Lee) e Isaac (Mark Jackson) isso é facilmente resolvido. Mais sobre isso daqui a pouco. Uma investigação toma conta da nave, e aqui temos a oportunidade de ver a Tenente Kaylai mostrar suas habilidades. Aqui temos um rápido aceno para Jornada nas Estrelas, onde o código de tempo da gravação é 1701.7. Bem jogado MacFarlane, bem jogado… Klyden é identificado e colocado na prisão para questionamento. Onde ele afirma ter estado na simulação mas que ele não o matou. Bortus acredita nele, e nós em Bortus.
Klyden diz que ele contaria para as autoridades Moclan que Locar gostava de fêmeas, o que faria com que ele fosse executado. Isso não é de forma alguma apenas ciúmes de Bortus, mas sim um ódio pelo diferente, pelo que não entendemos, uma heterofobia espelhando a homofobia de nosso próprio mundo real. Uma imagem fortíssima que ao nos faz olhar profundamente para a cultura Moclan, e para a nossa ao mesmo tempo.
Existirá outro Moclan a bordo que possa ter matado Locar? Terá Locar se suicidado e alterado a gravação para incriminar Klyden pela ameaça? Neste momento nos descobrimos que suicídio é também considerado um crime, onde a família do suicida será punida com expulsão da sociedade Moclan. O que, em primeira instância, eliminaria o suicídio porque Locar não iria querer prejudicar sua família. Klyden ainda é o principal suspeito.
Os instintos de Keylai dizem que ele está vivo e escondido ainda dentro da nave, em algum lugar. Mais um rápido paralelo com Jornada, desta vez com o sexto filme: A Terra Desconhecida [Star Trek: The Undiscovered Country]. Keylai recruta toda sua equipe e uma busca é feita a bordo da Orville, muito parecida com a busca que a Tenende Valeris (Kim Cattrall) executa a bordo da Enterprise.
Locar é encontrado, e neste momento ele pede que ela o deixe fugir. Keylai não pode permitir isso, afinal existe um inocente preso. Locar, com lágrimas nos olhos e lutando para manter sua dignidade, aceita seu destino. Ele se entregará as autoridades Moclan para que as providências sejam tomadas por seu “crime de ser heterossexual“.
Ao final, temos uma cena entre Keylai e Klyden, onde ele vai agradece-la por ter provado sua inocência. Ela simplesmente fala a ele que se ele quer agradece-la, que ele nunca mais cruze o caminho dela, em uma das cenas mais fortes da série até agora, levando a um final sem açúcar para ajudar o remédio a descer. Seco e brutal. Um final que nos deixa com um gosto ruim na boca, não por que os Moclans tem uma péssima sociedade retrógrada, mas porque nós temos.
Locar e Alan Turing
Eu não posso deixar de pensar que o personagem de Locar foi inspirado pela história de Alan Turing. Turing foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista da computação britânico, influente no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo e computação com a máquina de Turing, desempenhando um papel importante na criação do computador moderno. Foi também pioneiro na inteligência artificial e na ciência da computação. É conhecido como o pai da computação. A homossexualidade de Turing resultou em um processo criminal em 1952, pois atos homossexuais eram ilegais no Reino Unido na época, e ele aceitou o tratamento com hormônios femininos e castração química, como alternativa à prisão. Morreu em 1954, algumas semanas antes de seu aniversário de 42 anos, devido a um aparente auto-administrado envenenamento por cianeto. Em 24 de dezembro de 2013, Alan Turing recebeu o perdão real da rainha Elizabeth II, da condenação por homossexualidade.
Tanto Locar, quando Turing eram referências em suas áreas de estudo, eram profissionais exemplares que empurraram o desenvolvimento da ciência com uma força incrível. Ambos tinham sexualidades não “compatíveis” com a sociedade que viviam, e não eram consideradas corretas. Tal posicionamento era embasado em leis. Os dois foram punidos por seu “crime”.
O Plano de Locar
Locar queria realmente incriminar Klyden?
Quando LaMarr e Isaac estão tentando limpar a imagem que está gravada no sistema, eles percebem que existe uma camada apenas que está impedindo que a imagem possa identificar o assassino, o que é facilmente resolvido. Mas Locar é um engenheiro experiente, com conhecimento de sobra para criar uma proteção muito mais complexa, dificultando e atrapalhando a investigação.
A intenção dele, era justamente que Klyden fosse descoberto e acusado, mas qualquer investigação um pouco mais cuidadosa revelaria que a imagem era falsa, inocentando Klyden em seguida. Ele estava apenas criando uma distração para que pudesse fugir da Orville, e consequentemente de Moclus, para onde ele nunca mais retornaria. Uma vida se escondendo, como ele mesmo coloca.
Embora Klyden tenha destruído sua vida, ele não tinha a intenção de destruir a vida dele. O que torna o destino de Locar ainda mais difícil de engolir.
Em defesa de Klyden
Klyden, embora se torne o vilão do episódio, e venha a tempos tornando a convivência com os Moclans excessivamente complexa, é fruto da sociedade que foi criado. Os Moclans são uma sociedade retrógrada e dogmática. Segundo eles, somente o meio de vida que eles seguem os permitiu sobreviver ao inóspito planeta natal deles. E é exatamente isso que pessoas com uma visão mais conservadora fazem: lutam contra a mudança, mesmo que seus métodos não sejam sempre os melhores.
Não podemos esquecer que Klyden, assim como seu filho com Bortus, Topa, nasceu fêmea e passou pela cirurgia de mudança de sexo ainda recém nascido! Se Klyden aceitar fêmeas e pessoas que sentem atração por fêmeas, todo o sofrimento que ele passou, e mais ainda, todo o sofrimento que ele fez sua filha Topa passar, terá sido em vão. Mesmo que Klyden enxergue que ele está errado, que sua sociedade está errada, a mudança é difícil e dura; e certamente não virá em pouco tempo apenas com um discurso inflamado. E assim como em “Sobre uma Garota“, a sociedade Moclan permanece inalterada, com seus costumes firmemente fincados no solo árido do planeta.
É aqui que os roteiros de Orville ganham força. Não existe resposta fácil, e embora o final de Locar seja extremamente triste e injusto, é possível ver o quão difícil é mudar uma sociedade com costumes dogmáticos como os Moclans. Assim como é difícil mudar os costumes aqui em nosso mundinho real.
Pensamentos em Relação a Sociedade Moclan
Dato que temos diversos exemplos de Moclans que nascem fêmeas, Klyden, Topa e Heveena (Rena Owen em Sobre Uma Garota), e que existem Moclans que sentem atração por fêmeas, é cabível assumir que os Moclans não são uma espécie exclusivamente de machos, mas que por algum motivo no passado escolheram por eliminar as fêmeas da sociedade por algum motivo ainda não explicado.
Isso pode vir de encontro com a afirmação que “eles só sobreviveram pela maneira como sua sociedade é construida“. Certamente é um tema que irá ser abordado em algum ponto no futuro da série.
A conversa de Keylai e Bortus
Existe um momento no episódio que Keylai e Bortus se veen frente a frente, e Keylai, que está emocionalmente envolvida no caso, se exalta e joga na discussão o que fizeram com a filha dele. Burtus simplesmente explode com uma fúria incontrolável de quem tem algo que estava remoendo dentro dele a tempos.
Todo o episódio a respeito do vício por simulações pornográficas de Bortus, Impulsos Primitivos, existe justamente para nos mostrar que a decisão de permitir o procedimento de mudança de sexo em Topa, não estava resolvido dentro dele! Embora Bortus seja um cara durão, como todo Moclan, não significa que ele seja invulnerável, e este é certamente um ferimento que ainda não cicatrizou, e talvez nunca cicatrize.
Burtus é um progressista, muito a frente da sociedade onde foi criado. Ele sabia que Locar era heterossexual, e mesmo após o relacionamento deles terminar, ele guardou o segredo para si. Ele poderia ter levado o caso as autoridades Moclan, mas não o fez, por amor pelo ex-companheiro e principalmente por respeito. E isso foi antes dele entrar para a tripulação de uma nave da União! Agora, depois de todas as experiências que ele viveu, certamente ele está ainda mais aberto a novas culturas e novos meios de vida. Bortus não conseguiu evitar que sua filha passasse pelo procedimento, mas não me assustaria se em breve veremos Burtus liderando um grupo revolucionário em Moclus.
A saída de Moclan da União?
Ao final do episódio, temos um comentário rápido, entre Mercer (Seth MacFarlane) e Grayson (Adrianne Palick), sobre “por quanto tempo mais irão aguentar os Moclans na União“. O nível de roteiros que MacFarlane e sua equipe estão entregando me diz que nada que vai para a tela é desprovido de intenção.
Estaría a série nos preparando para um movimento separatista de Moclan da União? Eu realmente espero que Bortus se torne uma espécie de Rom (Max Grodénchik) de Jornada nas Estrelas: A Nova Missão [Star Trek: Deep Space Nine], no sentido dele ser um farol de mudança social em Moclus, mais ou menos como a história dos Farengi em DS9.
O que foi aquele Tiro de Torpedo no meio do Teste do Escudo?
Por outro lado, algo me diz que talvez os Moclans mais conservadores não estejam gostando da intervenção da União em assuntos exclusivos de Moclus! Porque os Moclans atiraram torpedos contra a Orville no meio de um teste dos escudos? Será que existe algum sentimento mal resolvido por parte dos Moclans que não estão muito felizes com a presença desta União excessivamente progressista?
Novamente eu não acredito que nada venha de graça neste roteiro, e provavelmente este torpedo é o anúncio de uma explosão muito maior. Acho muito difícil ter sido simplesmente o oficial de artilharia Moclan que estava irritado com as manobras de Malloy (Scott Grimes), quando ele estava começando a se exibir demais.
Considerações Finais
Como capítulo de uma história maior, “Escudos” é simplesmente impecável, um episódio que sabe se apoiar em um universo em andamento, que não só respeita o que veio antes, como constrói em cima de forma magistral. O episódio tem uma estrutura que me forma nos ombros de outros sem que a construção como um todo penda para nenhum lado.
E como episódio solto, é simplesmente um trabalho digno dos maiores prêmios Ficção Científica. Não vejo a hora de receber a notícia que este episódio ganhou um Hugo ou um Nébula por melhor roteiro para série de tv.
Muito feliz que temos hoje este calibre de roteiro em uma série de tv. Nada mal para uma “série de comédia”.
Veja nossas primeiras impressões em vídeo!
Pensamentos soltos no Espaço
- Poderiam ter colocado uma breve cena de reação de Klyden quando ele descobre sobre Locar. Ele vai do afável “sente-se para jantar conosco!” ao horrendo “Eu sei o que você é!” sem nada no meio. Poderiam ter um rápido desenvolvimento entre os dois extremos.
- Agora que Grayson não está mais namorando, será que a série irá perseguir o romance entre ela e Mercer novamente? Eu quero que ele volte com Teleya (Michaela McManus) – Nada Resta na Terra Exceto os Peixes
- O Amigo Flor de Cassius (Chris Johnson), é simplesmente hilário. “Eu sou amigo dele da faculdade, estava devendo um favor…” Sem contar que o Katrudian é dublado por ninguém menos que o Duro de Matar, Bruce Willis!
- Eu quero um episódio focado na Alfeires Turco (Kyra Santoro)! Como ela faz aqueles bolinhos?
- Dan: “Raios Trator Ativados” Enquanto como um bolinho! Dan é simplesmente um cara muito bacana!
- Keylai se tornará o McCoy desta série, é isso?
Curiosidades
- O Capitão Moclan Rechik, é interpretado por Wren T. Brow, que interpretou o Comandante Klingon Kohlar, no episódio Profecia [Profecy], o décimo quarto episódio da sétima temporada de Jornada nas Estrelas: Voyager.
- Quando Locar e Talia entram no simulador, o filme é Marujos do Amor [Anchors Aweigh, George Sidney, 1945], estrelado por Gene Kelly e Kathryn Grayson, cujos sobrenomes compõem o nome do personagem da primeiro oficial da Orville, Comandante Kelly Grayson.
Ficha Técnica
Deflectors – Escudos
Segunda Temporada – Episódio 07
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: David A. Goodman
Estreia: 14 de fevereiro de 2019
Quer mais Orville?
[EPISÓDIO ANTERIOR] – [PRÓXIMO EPISÓDIO] (*Em Breve)
Boa análise e review👍
Permita -me criticar.
Citando temas do episódio, além dos casais em DRs (de novo ), a homofobia ou heterofobia já foi tb discutido em 3 ou 4 episódios e de novo foi o foco neste ep7.
Deve haver mais temas relevantes na sociedade para repetir e ressaltar ,não é?….. para fazer analogias e debater nesta série ,que claramente quer parodiar STAR TREK e trilhar o mesmo caminho de sucesso há mais de 52 anos.
Mas estão se repetindo num ou 2 temas apenas,parece falta de criatividade para colocar em foco novamente, outras questões relevantes como racismo, belissismo, disputas pelo poder, exploração entre os seres, escravidão, controvérsias da tecnologia, conflitos de leis, dificuldades de diálogo entre as pessoas , erros e consequências , drogas e tantos outros que já podiam ter abordado ou re abordado , mas MacFarlane insiste em uma ou duas teclas somente, até agora.
Espero que evoluam para temas diversos ,pois Orville tem potencial pra ser melhor, ainda mais tendo ajuda de tantos ex ST como Diretores na produção, como Frakes.
Nesse episódio usam de novo o Holodeck, que poderiam ter sido mais originais e ter feito de outra forma, em vez de copiar descaradamente TNG.
Fica parecendo um TNG temp8 ,em vez de uma nova série.
MacFarlane é trekker de carteirinha.
E por isso acha que deve imitar e copiar STAR TREK?
Assim tá muito fácil, queria ver algo novo nessa série situada 400anos além de TNG, deveria haver muito mais novidades na nave .
O aceno para ST ou fã service usando código 1701.7 , seria bem mais legal se fosse 1701.6, KKKKKKK, já que tb copiam as cenas de busca pelo assassino na nave, que foi mostrado em ST 6, A TERRA DESCONHECIDA.
Vejo muita cópia de ST.
E ainda, Locar teve a grande oportunidade de ser o primeiro exilado político de Moclan ,na União, como Keylai mostrou-lhe e ofereceu.
Mas ele recusou, preferindo se entregar ao seu governo, sabendo que será neutralizado e assim ,deixando de lutar pela sua liberdade e pela causa de muitos outros
” heterossexuais” (no caso uma metáfora para homossexuais do nosso mundo) de Moclan.
Simplesmente desistiu da luta, se acovardou?
Pra mim esse foi um enorme furo de roteiro e faria desse episódio algo novo no debate social da série .
Terminou na saída simples, Locar se entregou e aparece sendo preso e julgado.
Ao invés de pedir asilo político na Orville e continuar livre lutando pela liberdade dos iguais a ele e buscando mudanças em Moclan.
Enfatizando a importância, analogamente, de nós tb lutarmos pelas mudanças e contra injustiças no nosso mundinho. Ser exilado não é fácil, muito mais difícil que se entregar e desistir de lutar.
Além disso, há outro grande furo de roteiro pois Locar se entregando ao governo Moclan, é mostrado sendo julgado por ser heterosexual , ou seja, causando a desonra à sua família, que ele frisou que não queria causar no meio do episódio .
Se pedisse asilo na Orville, não seria julgado,nem teriam como provar em Moclan,que era “culpado” e assim não afetaria sua família. E ainda poderia agir na clandestinidade ,
ajudando outros semelhantes a subverterem o status retrógrado de seu mundo.
Deixaram passar e perderam um ótimo tema pra outro episódio.
Em resumo,foi um bom episódio “do mais do mesmo” ,falta criar o novo.
Olá Fábio! Vamos lá… vamos por partes.
O episódio não é somente sobre relacionamento, ele apenas usa o tema como degrau para chegar ao ponto a ser discutido.
E justamente por estarem falando tantas vezes sobre o quão difícil é a cultura Moclan, que eu não acredito ser sem propósito. Eles estão construindo alguma coisa. Este episódio não fala só sobre homossexualismo. E sobre cultura, conflitos de interesse, dogmas, o quão difícil e mudar uma sociedade. Existem mais camadas neste episódio que parece em uma primeira vista.
Existe uma diferença entre copiar e homenagear. E aqui vemos claramente um exemplo do aluno superando o mestre. Sobre como você colocou, “que claramente quer parodiar STAR TREK”, eu só posso me lembrar de uma frase que é bem conhecida: “A Paródia (ou a cópia), é a maior forma de lisonja”.
Sobre explorar outros temas, eu acredito que The Orville esteja fazendo de forma primorosa, e “procurando novas formas de vida, e novas civilizações”, mas ao contrário de Jornada, estamos aprendendo mais profundamente sobre algumas poucas espécies, que termos apenas o planeta da semana que nunca mais veremos…
MacFarlane ofereceu a série para a CBS, que negou a série, assim como fez com Babylon 5 de J. Michael Straczynski. Por sinal, depois copiou a ideia principal e fez Deep Space Nine. E aparentemente está fazendo novamente com o jogo de videogame Tardigrades, algo que ainda está sendo debatido. Será que só Star Trek pode copiar os outros?
Ao meu ver, a responsabilidade de fazer algo 400 anos após TNG, é de star Trek, que, infelizmente, está presa fazendo reboots e prequels. Uma pena.
Quanto a cena da busca da nave. Novamente existe uma diferença entre copiar e homenagem.
Sobre Locar:
Ele poderia ser um exilado, o que traria consequências para a família dele, da mesma forma que no caso do suicídio. Se entregando e sendo executado, o problema acabaria com ele, sem repercussões para a família. De uma certa forma é um suicídio sem que haja a penalidade para a família.
Locar é uma leitura de Alan Turing, que escolher sofrer castração química para não ser preso. Ele escolheu qual pena preferia tomar, e mais tarde cometeu suicídio.
Locar lutou uma vida toda. As vezes podemos nos cansar de lutar. Cansamos do sofrimento. Não vejo nada se “simples” na escolha. Escolher a morte, de forma honrada como ele fez, não é nada simples.
Não é desonra para a família ser julgado como heterossexual. A desonra seria caso ele se matasse.
Agir na clandestinidade, como você falou, é justamente o que ele não queria fazer mais, porque passou sua vida inteira se escondendo. A escolha de enfrentar este destino inevitável, foi a maneira que ele encontrou de mostrar pela primeira vez, de peito aberto, quem ele realmente era.
Sobre qual personagem poderia fazer este papel de portador da mudança, este personagem é Bortus, que estamos acompanhando desde o primeiro episódio e temos diversas provas que ele não pensa como o resto da sociedade em que foi criado. Para nós espectadores, Bortus é um dos protagonistas, não Locar. Protagonistas mudam o mundo…
Como foi dito em algum lugar da internet: “The Orville é uma carta de amor para Star Trek”, não tome como um ataque.
Meu comentário de hoje não aparece?
Aparece sim! Como é a primeira vez que você comenta aqui, você caiu no SPAM. Mas já desbloqueei!
The Orville é uma série que aborda temas sérios de forma leve e inteligente. Seu elenco e personagens geram empatia, são interessantes e têm profundidade. Que pena que a série oficial da marca Star Trek (Discovery) não consegue nada disso, mas enfim, paciência, “tem quem goste do olho e tem quem goste de remela”.