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The Orville – Segunda Temporada – Episódio 09 – Identidade, Parte 2 – Review

The Orville – Segunda Temporada – Episódio 09 – Identidade, Parte 2 – Review

Na primeira parte de Identidade, The Orville nos apresenta o primeiro episódio duplo da série, com uma direção precisa e energética de Jon Cassar. Agora a parte 2 de Identidade, mostra o porque de todos aqueles erroneamente criticados, “episódios de relacionamento“. Seth MacFarlane mostra que é um showrunner de mão cheia que, não só conhece o material que tem em mãos, mas sabe como desenvolver a série para funcionar dentro de um orçamento de série de televisão sem nos privar de uma das maiores batalhas espaciais da história!

Identidade, Parte 2

O episódio todo gira em torno da construção para o clímax: A Grande Batalha Espacial. E se tem uma coisa que The Orville faz eximiamente, é criar o clima perfeito. Esta segunda temporada inteira parece ter sido construída para nos trazer até este confronto entre a União Planetária e os Kaylons, e olhando mais profundamente, podemos encontrar traços vindo desde a primeira temporada!

Orville nos fez amar cada personagem que andou nos corredores da nave, nos mostrando seus conflitos, suas paixões e suas falhas. Ninguém ali é perfeito, e exatamente por isso que conseguimos nos aproximar dos personagens como poucas séries tem feito na atualidade.  Do romance de Claire e Isaac, as dificuldades de lidar com a cultura dos Moclans, ao relacionamento de Mercer com Teleya; tudo colocava mais um tijolo nesta grande estrada que nos traria a este episódio.

A traição de Isaac só é forte da maneira que é, por que nos simplesmente nos apaixonamos por ele e torcemos por ele. Enquanto temos dificuldades de entender e aceitar a cultura Moclan com todo o seu preconceito, podemos ver que talvez seja mais fácil lidar com eles que com os Kaylons, afinal o ódio pode ser combatido, o desprezo não. E até os Krill, que foram definidos como “os grandes inimigos da União“, logo no primeiro episódio, mesmo com todo seu fanatismo religioso podem ser lidados se tentarmos encontrar um caminho.

A ameaça dos Kaylons é maior que nossas diferenças culturais, raciais ou sexuais, ela é uma ameaça a vida orgânica em si! Orville tem um discurso muito sólido sobre relacionamentos e culturas, e agora expande este discurso, nos mostrando que, ao contrário que os Kaylons acreditem,  a coexistência é possível, desde que nos queiramos.

Outro ponto espertamente bem desenvolvido pelo episódio, é justamente o uso de diversos personagens nas cenas. Ninguém fica sem fazer nada! Bortus, Kayali, Gordon, Grayson, Yaphit, LaMarr e Ty… Ninguém ficou de fora!

A Virada de Isaac

Uma característica fortíssima de The Orville é a sua capacidade de subverter as expectativas. Por diversas vezes nós esperávamos um desfecho e recebemos outro, mas aqui não é a subversão do “vamos irritar o espectador” à la “Morte de Luke Skywalker“. Aqui a subversão é feita da maneira correta.

O roteiro deste episódio é tão autoconsciente que ele sabia que se Isaac “voltasse a ser bonzinho”, poderia ser considerado uma saída fácil para poder manter o personagem na série. Manter Isaac como um grande vilão, seria provavelmente a segunda melhor opção, pois ganharíamos um oponente interessantíssimo e ainda teríamos Isaac na série de tempos em tempos. Mas a melhor opção, usar um clichê, cabe como uma luva.

Isaac volta a “ser bonzinho” e, em uma primorosa cena entre Claire e Isaac ao final do episódio, a escolha é dissecada para quem não pegou. Esta cena está facilmente entre as mais fortes de uma série repleta de cenas fortes. Isaac está tentando tirar uma foto de seu planeta através de seus “sensores ópticos”, como uma foto mental de uma época onde não tínhamos câmeras fotográficas em nossos bolsos a qualquer momento. O processo dele, é através de uma “longa exposição”, onde ele tem que ficar olhando por muito tempo para receber o pouco de luz vinda de Kaylon 1. Como fazemos com nossos telescópios hoje em dia.

Ao ser questionado, Isaac proclama o que é facilmente a melhor frase de toda a série até o momento, em mais um brilhante momento de interpretação de Mark Jackson.

“Minhas ações eliminaram minha possibilidade de retornar para meu planeta, e as ações dos Kaylon eliminaram minha vontade de faze-lo” – Isaac

Isaac, agora livre de sua missão inicial, é protagonista de sua vida. Ele escolheu se voltar contra o povo dele, note que agora ele não se considera mais um Kaylon, “as ações dos Kaylon”. Ele ainda completa com o o fato de não ter mais vontade de voltar, pelo que eles fizeram. Tudo que ele fez antes, era guiado por sua programação inicial, agora ele é livre dela e dono de sua vida.

Isaac completa ainda com “Eu não tenho um Lar”, respondendo para o questionamento de Claire sobre a “foto de casa” que ele estava tirando. Ela fala que “Lar é onde fazemos dele”, usando um “clichê humano” como apontado por Isaac. Claire responde.

“Clichês se tornam clichês, precisamente porque eles são validos o bastante para serem repetidos infinitamente” Dra. Claire Finn

Um clichê, quando bem utilizado, é muito mais poderoso que uma ideia nova porém fraca. O roteiro sabia de como poderia ser interpretado, e fez questão de deixar claro que não foi por “preguiça” ou “falta de idéias novas” que a história seguiu este caminho, mas porque era a mais orgânica.

A cena ainda continua, com a declaração que o “perdão é um antigo habito humano” que leva tempo mas precisa ter um começo. Isaac, neste momento, já está perdoado; nós só precisamos esperar as feridas cicatrizarem.

Toda a cena é perfeitamente dirigida, justamente pela direção praticamente se ausentar e permitir que os atores vivam seus personagens. Plano e contra plano, sem musica, sem pirotecnias, sem interpretações forçadas. Apenas pessoas vivendo suas vidas, discutindo seu relacionamento. Primoroso!

A Grande Batalha Espacial

Vamos falar da grande batalha espacial que comeu uma grande parcela do orçamento da temporada! Muitos não estavam felizes com o caminho de “episódios focados em relacionamentos” que a segunda temporada de Orville estava tomando. Pois bem, este episódio justifica tudo. O motivo óbvio, o custo desta cena de batalha foi altíssimo e cortes deveriam ser feitos em outros episódios para permitir que a cena fosse feita. Afinal de contas, ninguém gosta quando uma batalha vai acontecer e quando voltamos co comercial já estamos no final da batalha, com todos feridos. Nos queremos ver a batalha, e este episódio realmente entrega o que prometeu!

Sem muitas delongas, esta foi uma das grandes batalhas espaciais de toda a história da televisão de ficção científica! Parecia que estava assistindo um filme, com altíssimo orçamento! É possível sentir a cena de batalha como parte de O Retorno de Jedi! É desse nível de qualidade que estamos falando aqui!

Minha cena preferida de Batalhas de Naves em séries de TV, é “O Resgate em Nova Caprica” de Battlestar Galactica (Terceira Temporada; Exôdo, Parte 2, s03e04), mas esta cena simplesmente me deixou balançado! Ela foi diretamente para segundo lugar em minha lista de melhores batalhas espaciais. Muito emocionante, e muito bem feita! O risco da perda é eminente. Eles estão chegando na Terra, e sua Armada Kaylon é vastamente superior as poucas naves que a União Planetária conseguiu reunir.

As naves da União são facilmente abatidas com um tiro das naves Kaylon, com exceção é claro da Orville! “Ah, mas isso é só para eles não morrerem!” Sim, mas não que isso não tivesse sido construido antes, em um daqueles “episódios chatos de relacionamento“, espertamente carregando o título de “Escudos“, quando Locar atualiza os escudos da Orville com tecnologia Moclan. É bom a união desconsiderar a retirada dos Moclans da União imediatamente!

Algo que é muito difícil de fazer em cenas de batalha que tem muita coisa acontecendo na tela simultaneamente, é justamente identificar o que está acontecendo. Explosões, muitas naves, cenas rápidas, muitos cortes… Tudo isso dificulta o entendimento da narrativa da batalha. Por diversas vezes se torna quase impossível saber quem é quem no campo de batalha. Aqui tudo é perceptível claramente, potencializando a emoção do risco da derrota.

Sabiamente eles pegaram emprestada uma linguagem de outra mídia, os Jogos de Estratégia de videogame, onde casa armada tem a sua cor predominante. As naves da União são azuis, os Kaylon são vermelhos e a cavalaria Krill, que ao socorro da União, é verde. Com o uso das cores, é fácil de identificarmos as naves e muito divertido de reassistir a cena diversas vezes para ver o que cada um está fazendo em cada momento. Acredite, tem muita coisa bacana acontecendo!

Um detalhe para prestar atenção, é como os detritos de naves destruídas se tornam ameaças no campo de batalha, e não são instantaneamente obliterados da existência no momento que a nave é destruída. E bacana também como as naves Kaylon podem atacar de “encontrão”, destruindo as naves da União basicamente atropelando!

Como vi alguém comentando na internet, “The Orville estava ensinando Star Trek a ser Star Trek, agora vai ensinar Star Wars a ser Star Wars”. Para uma série com orçamento de TV, esta cena é realmente um grande feito.

Batalhas Espaciais Memoráveis!

Seguem algumas batalhas espaciais muito divertidas de se assistir. Vale séries de tv, filmes, e jogos, sem nenhuma ordem específica!

  • “Resgate em Nova Caprica” – Battlestar Galactica (Exôdo, Parte 2 [Exodus, Part 2] s03e04)
  • “USS Enterprise VS USS Reliant” e “A Batalha na Nebulosa de Mutara” – Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan [Star Trek II: The Wrath of Khan]
  • “Batalha de Endor” – Guerra nas Estrelas: O Retorno de Jedi [Star Wars: Return of the Jedi]
  • “USS Enterprise VS Ave de Rapina Romulana” – Jornada nas Estrelas: O Equilíbrio do Terror
  • “A Batalha de Deep Space 9” – Jornada nas Estrelas: A Nova Missão [Star Trek: Deep Space Nine] (s04e01 – “O caminho do Guerreiro, Parte 01” [The Way of the Warrior, Part 1])
  • Batalha da Cidadela – Mass Effect
  • Batalha de Asuras – Stargate: Atlantis (s04e11 – “Que todos meus Pecados sejam Lembrados” [Be All my Sins Remember’d])
  • Batalha da Antártica – Stargate SG-1 (s07e22 – A Cidade Perdida, parte 2 [The Lost City, Part 2])

Veja nossa análise em vídeo!

Pensamentos Soltos no Espaço

  • Gordon aparecendo pilotando um caça Krill é engraçado demais! Imagina o que ele faria se estivesse a bordo da Orville no momento da batalha!
  • Será que Teleya aparecerá no próximo episódio?

Ficha Técnica

Direção: John Cassar

Roteiro: Seth MacFarlane


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Newton Uzeda

Newton Uzeda, o Terceiro de seu Nome, Viajante de muitos Mundos, Sonhador de Fantasia, Leitor de Sci-fi, o Desafiador da Máquina, o Colecionador de Mundos, o "Último dos Renascentistas", Guardião de Histórias e o Questionador de Autoridades.

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