Um Ponto Zero – One Point O (2004)
Existem boas pessoas, e existem más pessoas e elas estão a caminho,
E elas querem você, Simon,
As pessoas más podem salvar você, mas não vão…
As pessoas boas querem salvar você, mas não podem…
Neste fim de semana, resolvi rever este filme de Jeff Renfroe e Marteinn Thorsson. Um Ponto Zero – Paranoia 1.0 (One Point O), conta a história de Simon (Jeremy Sisto), um programador de computadores que vive solitário em um apartamento alugado, com um prazo de entrega lhe apertando o pescoço, auxiliado por um aluguel atrasado. Simon sai de seu universo conhecido quando uma misteriosa caixa embrulhada em papel pardo aparece dentro de seu apartamento e, ao abri-la descobre não haver nada dentro dela. Após este incidente Simon desenvolve uma paranoia intensa, acompanhada por um desejo incontrolável de consumir “Nature Fresh Milk” (algo como: Leite Natureza Fresca).
A trama de complica, quando outras personagens vão aparecendo, como o Senhorio, um vizinho que curte um role-play sexual, uma enfermeira também moradora do prédio, e um alemão tecnomaníaco que está construindo uma cabeça de um robô; cada qual com os mesmos sintomas, porém por produtos diferentes: carne farm, cola 500, ou um determinado suco com vitamina B-alguma-coisa.
Os únicos que não exibem nenhum sintoma são Howard (interpretado por Lance Henriksen –Millennium; Aliens, O Resgate; Terminator), um factotum do condomínio, que se vangloria de ser um vagabundo. Mora num lugar apertado e produz seu próprio vinho; e Nile (Eugene Byrd), um motoboy auto-nominado Red Currier, que atende por telefone e compra as coisas que Simon precisa e entrega na casa dele. Definitivamente um serviço que deveria existir.
Vamos lá, análise rápida: O filme, como todo bom sci-fi, faz referências a coisas que já acontecem em nossas vidas e as colocam de formas ligeiramente (ou absurdamente) extrapoladas, a fim de nos mostrar um ponto de vista sem correr o risco de ser censurado ou algo parecido. Neste caso específico, o filme faz referência ao mercado, e a forma que ele sempre encontra um modo de atingir seu público. Isto é colocado no filme quando através do vírus que é colocado em Simon e nos moradores do prédio, que coloca SPAMS (Monty Phyton???) de produtos em seus cérebros. O Red Curier, é o vendedor, que se faz de amigo para vender o produto. E o herói, é justamente Howard, um vagabundo economicamente inativo, que não consome e não gira o dinheiro. Howard produz seu próprio vinho e seus próprios divertimentos, os Bugs, que são uma ameaça para o mercado, um problema para o mercado. Howard não foi comprado, e não compra… ele não foi assimilado. Qualquer referência aos Borgs de Star Trek, é mera coincidência…
Um cenário cyberpunk atemporal, introspectivo, que nos leva a um futuro próximo (talvez atual),com computadores e relógios de corda convivendo lado a lado, nos passando a impressão que pode acontecer em qualquer época, ontem ou amanhã; totalmente sombrio como o próprio mercado com suas intenções obscuras o é. Absolutamente (in)crível como um filme destes não foi devidamente divulgado, nem no mercado americano nem no brasileiro. Um filme, sem explosões ou efeitos especiais chiques e clichês para atrair a massa, porém um filme interessantíssimo, afiado e sufocante, nos deixando apreensivos com o rumo que tomamos.
NOTA:
Sempre que assisto a este filme, gosto de assistir na sequência o п (Pi – 1998) de Darren Aronofsky. Os filmes não tem qualquer ligação, porém o clima é muito parecido.
Este texto é antigo, escrito lá em 2010 em um antigo blog de cinema que participava. Estou resgatando alguns que valem um pouco mais a pena. Nada mágico; um tanto pretensioso. Mas vamos lá, o que esperar de alguém cursando faculdade de cinema? Tenham pena do meu eu mais jovem, ele estava aprendendo… o atual também. O texto foi reproduzido praticamente na integra.