Star Trek: Khan – Reinando no Inferno – Análise de Gibi!
Star Trek: Khan – Reinando no Inferno
Você já se perguntou o que aconteceu com Khan entre ser deixado em Ceti Alpha V e a chegada da tripulação da USS Reliant? Já? Então “Star Trek: Khan – Reinando no Inferno” é para você!
O gibi (Star Trek – Khan: Ruling in Hell) com roteiro de Scott e David Tipton e arte de Fabio Mantovani, pega a história alguns momentos após o final do episódio. Podemos ver Kirk e Scotty entregando a tripulação da SS Botany Bay no solo de Ceti Alpha V. Kirk E Khan se falam pela última vez e se despedem com um aperto de mãos. Esta será a última vez que os dois ficam frente a frente.
Em Star Trek: Khan – Reinando no Inferno, vamos que Khan respeita Kirk. Que passou a respeita-lo e até a admirá-lo quem sabe, depois de ser vencido por ele. Ele passa a ver Kirk quase como um igual, e acredita que ele agiria da mesma forma que ele. Este pensamento custará caro.
E tudo vai bem. Khan é amado e seguido por todos, como é de costume. Sempre que as coisas vão bem, o líder é idolatrado, mas no primeiro sinal de problema prepare-se…
Khan e Marla
O romance entre Khan e Marla é levemente desenvolvido na história. O que é uma pena, visto que Khan via nela algo que não viu em nenhuma outra mulher. Em certo pondo do gibi, a afeição dele por ela é chamada de “fixação doentia“, mas infelizmente não vemos esta fixação.
O envolvimento dos dois se resume a alguns beijos e ela dizendo que está sempre do lado dele. Mas este “estar do lado” não é visto, ela não o ajuda a tomar nenhuma decisão, ela não o defende em ponto algum. Ela está do lado, fisicamente.
O uniforme da federação é queimado e ela passa a se vestir com a “meia arrastão de corpo todo” que uma tripulante é vista usando no episódio clássico.
Não tenho nada contra idealizar o físico de um personagem para um gibi ou um filme. Estamos lidando com fantasias aqui. Não tenho problema com personagens que são somente isso, uma imagem bonita. Existem tipos de personagem para todos os tipos de história.
Agora Marla não. Ela é uma personagem que foi pouco desenvolvida em “Semente do Espaço“, que poderia e deveria ser desenvolvida aqui. Ela não foi tratada como um enfeite no episódio, porque ser tratada aqui?
É um desperdício de oportunidade. Finalmente poderíamos ver aquilo que Khan viu nela logo de cara. Vê-la pelos olhos dele. Mas não, o que temos é uma mulher enfeite que o final trágico vem cavalgando.
Mais sobre isso a seguir.
Fixação por Kirk
Como era esperado, Ceti Alpha VI explode, tirando Ceti Alpha V de sua orbita, destruindo o paraíso antes encontrado por Khan.
ESTE É CETI ALPHA V !!! O Ceti Alpha VI explodiu seis meses depois de termos sido deixados aqui. O choque mudou a órbita deste planeta e tudo foi devastado. O Almirante Kirk nunca se preocupou em verificar nosso progresso! Foi apenas o fato do meu intelecto geneticamente modificado que nos permitiu sobreviver. Na Terra… duzentos anos atrás … eu era um príncipe … com poder sobre milhões. – Khan para Chekov em Jornada nas Estrelas II – A Ira de Khan
Khan, o grande líder com seu “intelecto superior geneticamente modificado” vê uma catástrofe que tem a capacidade de acabar com o planeta que ele está preso faz nada, ou muito pouco. “Eu rio de seu intelecto superior!”
Ele espera que Kirk volte para o resgate. Mesmo com os mais próximos dele avisando. Ele não vê outra alternativa a não ser esperar. E o tempo vai passando, e o clima no planeta vai mudando. A vegetação muda, e a fauna muda. Khan espera. Kirk virá.
Ver Kirk como um “igual”, ou pelo menos uma pessoa admirável depois de ter sido derrotado por ele é uma coisa. Mas o que temos em diversas cenas da história é um Khan apático, e não aquele que estava pronto para domar um novo mundo.
Está ai, um mundo selvagem e bem bravo para ser domado. Khan espera. Kirk virá.
Essa atitude logo gera antipatia de alguns, que acabam se cansando de esperar por liderança e se separam do grupo. Eles tem seu próprio mundo para domar.
Os que se mantém ao lado de Khan, seguem suas ordens. Reforçam as paredes da SS Botany Bay, juntam o que podem de comida. E esperam.
Em Star Trek: Khan – Reinando no Inferno, Khan é muito lento para tomar decisões de vida ou morte. O que faz dele um líder fraco. É uma pena.
Enquanto poderíamos ter um Khan, aprendendo como este novo mundo funciona, e lutando para não ser jogado ao chão, temos um Khan que aceita o mundo como se apresenta.
Não temos um líder criando maneiras de manter seu povo vivo apesar das adversidades, mas temos um líder cego, frágil. Muito diferente do que vimos na série ou veremos no filme.
Uma nova crise
Pessoas começam a ficar doentes e morrerem rapidamente. Em meio a um cataclismo, eles tem agora que lidar com um novo inimigo. Esta é a parte mais interessante do gibi.
As Enguias de Ceti, que viviam no subterrâneo do planeta, vem para a superfície devido a mudança climática em busca de alimento. Acabam infectando as pessoas.
Como todos sabemos elas entram pelas orelhas e se acoplam na base do cérebro, tornando as pessoas suscetíveis a comandos.
Pois bem, depois da cisão, um novo líder se forma do outro lado. Ele culpa Khan por sua incapacidade de agir quando necessário.
Sabendo da fixação de Khan por Marla, ele se aproxima de Marla e a infecta com o Enguia, tornando-a suscetível a suas vontades. Ele faz com que Marla ataque Khan pelas costas. Ela falha na tentativa de assassinato e acaba morrendo por causa da enguia.
O confronto final
Khan quer vingança, e arma uma investida contra os dissidentes. Depois de algumas páginas de batalha, Khan é vitorioso, e com seu inimigo morto a seus pés, descobre que eles se abrigavam em uma caverna.
A caverna lhes provia abrigo e água para poderem sobreviver ao ambiente inóspito do planeta. Khan não enxergou. Cego por Marla, e por Kirk.
A admiração por Kirk se torna raiva, raiva se torna ódio.
Eles abandonam a Botany Bay e se mudam para a caverna.
A transformação de Khan
Este é o ponto alto do gibi. Aos poucos vamos vendo Khan mutando do Khan da série para o Khan do filme. um belo trabalho de arte, que realmente nos mostra o tempo passar. Ao contrário da história, que parece que aconteceu dentro dos primeiros dois anos da chegada, e não em quinze.
Um cuidado exemplar, com detalhes, nos mostra a roupa vermelha se deteriorando, até que a roupa marrom aparece. Depois ele começa a usar a luva, para poder manipular as enguias.
Por fim ele arranca da parede da Botany Bay, um delta da Federação. Seu laço com Marla, para sempre em seu peito. A mesma federação que ela deixou para ficar com ele. A Federação que o deixou enterrado vivo em um planeta morto. A Federação representando Kirk pendurado em seu pescoço.
A passagem dos anos aqui, se mostra de maneira simples, direta e efetiva. Em três quadros.
Dias viram meses… e meses viram anos. Khan ainda lendo “O Paraíso Perdido”, citado no final de “A Semente do Espaço”.
Finalmente temos o Khan do filme, esperando uma oportunidade para escapar de seu exílio. E a oportunidade chega, na última página.
Então, vale a pena?
Sendo bem curto. Sim. É o tipo de “gosto adquirido“. Nos vamos gostando mais do Khan conforme a história vai andando. Tentei aqui transmitir a mesma sensação que tive ao ler o gibi. Começo morno, desenvolvimento estranho e um protagonista que não escolhe.
Mas olhando para os detalhes, é uma bela história. De um cara que acreditou que o próximo faria o mesmo que ele. Que foi deixado e esquecido, que tinha um mundo nas mãos e perdeu. Que perdeu a confiança dos homens que o seguiam, que perdeu a mulher que amava.
Um homem que foi criado para “ser superior”, mas que se perdeu dentro de sua própria megalomania.
Não é a maneira que eu esperava que a história acontecesse. Isso eu tenho muito claro, e não sei se gosto da escolha que foi tomada. Mas é sim um gibi bem divertido. Muito mais agradável pelos desenhos que pelo texto em si, e ainda assim uma boa leitura de final de noite.
Para ver nossa análise de “Semente do Espaço”:
http://www.paponasestrelas.com.br/semente-do-espaco-space-seed-analise/
